8 NATIONALGEOGRAPHIC
Imaginemos
o planeta
sem
vírus.
Com uma varinha mágica, fazemo-los desaparecer. O vírus da
raiva desaparece de repente. O vírus da poliomielite desaparece.
O letal vírus do Ébola desaparece. O vírus do sarampo, o vírus da pa-
peira e várias gripes deixam de existir. Há uma enorme diminuição
do sofrimento e da morte humana. O VIH desaparece de repente e,
por isso, a catástrofe da Sida nunca aconteceu. O Nipah e o Hendra,
o Machupo e o Sin Nombre deixam de existir e os registos de caos
nunca aconteceram. A dengue? Desapareceu. Todos os rotavírus
desaparecem: uma enorme bênção para as centenas de milhares
de crianças em países menos desenvolvidos cuja morte é causada
por eles todos os anos. O vírus da Zika? Desapareceu. O vírus da fe-
bre-amarela? Desapareceu. A herpes B, que contagia alguns símios
e é frequentemente transmitida aos seres humanos? Desapareceu.
Já ninguém tem varicela, hepatite, zona ou até a constipação co-
mum. A varíola? Esse vírus foi erradicado na natureza em 1977, mas
agora desaparece dos congeladores de alta segurança onde as últi-
mas e assustadoras amostras foram armazenadas. O vírus SARS de
2003, o sinal de alarme que sabemos agora ter assinalado o início
da actual época pandémica? Deixou de existir. E, como é óbvio, o
nefasto vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19, com os seus efei-
tos tão surpreendentemente variados, tão complicado, tão perigo-
so, tão transmissível, desapareceu. Já se sente melhor?
As coisas não são tão simples.
Este cenário é mais equívoco do que parece. De facto, vivemos
num mundo de vírus inimaginavelmente abundantes e diversi-
ficados. Só nos oceanos poderá haver mais partículas virais do
que estrelas observáveis nos céus. Os mamíferos podem ser por-
tadores de um mínimo de 320 mil espécies de vírus diferentes.
Quando lhes somamos os vírus que infectam animais não-ma-
míferos, plantas, bactérias terrestres e todos os outros possíveis
hospedeiros, o total é incalculável.