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Segundo a hipótese da redução, os vírus sur-
giram quando algumas células diminuíram de
tamanho devido à pressão competitiva (uma
vez que é mais fácil replicar-se quando se é mais
pequeno e simples), perdendo genes até ficarem
reduzidos a um minimalismo tal que só conse-
guiam sobreviver parasitando células.
Existe uma quarta variante, conhecida como
hipótese quimérica, inspirada noutra cate-
goria de elementos genéticos: os transposões
(por vezes designados por genes saltadores).
A geneticista Barbara McClintock deduziu a sua
existência em 1948 e essa descoberta valeu-lhe a
atribuição de um Prémio Nobel. Estes elemen-
tos oportunistas alcançam o seu sucesso darwi-
niano saltando, simplesmente, de uma parte de
uma genoma para outra, em casos raros de uma
célula para outra e até de uma espécie para ou-
tra, utilizando recursos celulares para se copia-
rem sucessivamente. A autocópia protege-os da
extinção acidental. Acumulam-se de forma in-
vulgar. Constituem cerca de metade do genoma
humano. De acordo com esta teoria, os primei-
ros vírus poderão ter surgido de tais elementos,
pedindo emprestadas proteínas celulares para
revestirem a sua nudez com cápsides protecto-
res, uma estratégia mais complexa.
Todas estas hipóteses têm mérito. Em 2003,
novas provas fizeram as opiniões dos especialis-
tas tender para a redução: os vírus gigantes.
O
VÍRUS GIGANTE FOI DESCOBERTO no
interior de amebas, que são eucario-
tas unicelulares. Estas amebas foram
recolhidas em água captada numa
torre de arrefecimento em Bradford, em Ingla-
terra. No interior, havia uma bolha misteriosa. Era
suficientemente grande para ser observada com
um microscópio óptico (supostamente, os vírus
são demasiado pequenos para tal, sendo visíveis
apenas através de um microscópio electrónico),
e parecia uma bactéria. Os cientistas tentaram
detectar genes bacterianos neles contidos, mas
não encontraram nenhum.
Por fim, uma equipa de investigadores da cida-
de francesa de Marselha, convidou o vírus a in-
fectar outras amebas, sequenciou o seu genoma,
reconheceu-o e chamou-lhe Mimivirus, porque
imitava as bactérias, pelo menos em tamanho.
Em termos de diâmetro, era enorme, maior do
que a mais pequena das bactérias. O seu genoma
também era enorme para um vírus, com quase
1,2 milhões de letras de comprimento, com-
parado por exemplo, com as 13 mil do vírus da
gripe ou as 194 mil da varíola. À semelhança do
RNA, o DNA é uma molécula longa, constituída
por quatro bases moleculares diferentes, que os
cientistas abreviam usando as primeiras letras.
Tratava-se de um vírus “impossível”: de natureza
viral, mas demasiado grande em termos de esca-
la, como uma borboleta amazónica recém-desco-
berta, com um metro de envergadura de asas.
Jean-Michel Claverie era então um membro
sénior dessa equipa marselhesa. A descoberta
do Mimivirus “causou muitos problemas”, con-
tou-me. A sequenciação revelou quatro genes
A imagem de um
embrião humano com
apenas oito células
espreita atrás de Joanna
Wysocka, da Universi-
dade de Stanford.
Joanna e os seus colegas
descobriram que um
retrovírus endógeno
humano (uma sequência
genética adquirida a
partir de uma infecção
viral ancestral) é activado
nesta fase do desenvol-
vimento e produz
proteínas. Segundo a
equipa, é possível que
este gene, conhecido
como HERV-K, proteja o
embrião de infecções
virais e ajude a controlar
o desenvolvimento fetal.
LENNART NILSSON, TT/SCIENCE PHOTO
LIBRARY (EMBRIÃO); MARK WOSSIDLO,
UNIVERSIDADE DE STANFORD/
UNIVERSIDADE DE MEDICINA, VIENA
(BLASTOCISTO)