National Geographic - Portugal (2021-02)

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Em meados da década de 1990, porém, o Es-
tado tomou medidas para inverter a tendência.
Aprovou uma lei proibindo o abate de árvores
sem um plano de gestão pormenorizado e criou
um programa para pagar aos proprietários de
terras para as manterem fl orestadas e plantarem
árvores novas, fi nanciado por um imposto nacio-
nal sobre a gasolina. Em apenas 25 anos, o cober-
to fl orestal da Costa Rica mais do que duplicou e
o país vai bem encaminhado no seu objectivo: ter
árvores a revestir 60% do seu território até 2030.
Se a companhia de electricidade abater uma
árvore, terá de fornecer fundos para plantar cin-
co, explicou Andy. Pode ser louvável, mas difi cil-
mente é um fi m em si mesmo, comentou.
“Limitarmo-nos a promover o coberto fl orestal
é perigoso. Podemos acabar com uma fl oresta va-
zia. Aquilo em que estamos focados é na recupe-
ração de todo o ecossistema.”
Nos últimos anos, uma rede de armadilhas fo-
tográfi cas coordenada pela Osa Conservation e
outros grupos locais, tem revelado como as fl ores-
tas estão pujantes de vida. Um censo da década de
1990 quase não descobrira animais selvagens em
Osa fora do Parque Nacional de Corcovado, que
abrange a maior parte da região ocidental da pe-
nínsula. Agora, detectam-se animais onde antes
estes tinham sido caçados até desaparecerem.
Os pumas, outrora raros no parque e nunca vis-
tos fora dele, estão a recuperar. Os ocelotes tam-
bém estão a regressar em grande força, bem como
os jaguarundis, outro felino de pequeno porte. Os
porcos-do-mato abundam em Piedras Blancas,
um parque nacional no sector mais distante do
golfo. Os pecaris, uma espécie aparentada, não
estão a ter tanto sucesso fora do Parque de Cor-
covado, e talvez não seja de admirar, porque são
apreciados pela sua carne e por se deslocarem em
grandes bandos, facilmente visados pelos caçado-
res. Os pecaris são uma das presas preferidas dos
jaguares e também estes se têm esforçado para re-
cuperar fora dos limites do parque.
Em última análise, a única maneira de asse-
gurar a saúde do ecossistema de Osa é refl ores-
tá-lo. Para tal, a Osa Conservation está a ajudar
a preencher a fl oresta, plantando árvores em
quintas privadas estrategicamente posiciona-
das, como a de Doña Celedonia. A curto prazo,
os plantios ao longo de rios e riachos em áreas
cultivadas fornecem sombra para os animais de
criação, contribuem para prevenir a erosão do
solo e criam um habitat para aves e outros ani-
mais selvagens. Mas o objectivo a longo prazo é

Cinco espécies de felinos selvagens deambulam
pela fl oresta, quatro espécies de tartarugas-mari-
nhas sobem desajeitadamente os areais das praias
do Pacífi co para ali porem os seus ovos. A leste,
tubarões-martelo e baleias-de-bossa sobem o fi orde
do golfo Dulce para parirem.
Contudo, o ecossistema de Osa é frágil. Já es-
teve à beira da destruição duas vezes no passado
devido ao crescente impacte das comunidades
que abatiam a fl oresta para viverem, ou garimpa-
vam os rios de Osa em busca de alguns gramas de
ouro. Nos últimos anos, algumas comunidades
de Osa tornaram-se defensoras apaixonadas da
natureza que outrora exploraram: em vez de aba-
terem árvores ancestrais para obterem madeira,
abrem trilhos para ecoturistas e, em vez de abate-
rem ilegalmente animais selvagens, perseguem
os caçadores furtivos.
Agora, porém, a região enfrenta uma nova
ameaça. A pandemia de COVID-19 devastou a
economia da Costa Rica, fechando a torneira tu-
rística que fi nanciara a mudança para estilos de
vida ambientalmente sustentáveis. Os corações e
as mentes dos habitantes de Osa estão a virar-se
para uma ética de conservação, mas eles conti-
nuam a ter estômagos.
“Os habitantes locais são próximos da natu-
reza”, diz Hilary Brumberg, funcionária da Osa
Conservation que liderou o projecto de refl ores-
tação na quinta de Doña Celedonia. “Mas quando
se trata de alimentar a família ou de proteger a
natureza, a família vem primeiro.”


ANDY WHITWORTH, de 37 anos, juntou-se à organi-
zação em 2017, depois de ter passado seis anos
numa batalha desencorajadora pela conservação
na Amazónia peruana. “Quando cheguei a Osa,
voltei a sentir esperança”, contou enquanto tomá-
vamos o pequeno-almoço na estação biológica da
Osa Conservation, no Sudoeste da península. “Na
Amazónia, eu via macacos-aranha uma ou duas
vezes por ano. Aqui vejo-os uma ou duas vezes por
dia. Foi uma experiência transformadora.”
Andy Whitworth apressou-se a atribuir alguns
dos louros do sucesso de Osa às políticas de re-
fl orestação pioneiras da Costa Rica. Ao longo
da última metade do século XX, as fl orestas que
outrora cobriram 75% do país foram sistematica-
mente despidas devido à extracção de madeira, à
criação de gado e à plantação de culturas como a
banana e o ananás. Em menos de uma geração,
apenas um quinto da terra se encontrava coberta
por árvores.

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