PRESERVAROPARAÍSO 37
“Ascomunidadeslocaissãopróximasdanatureza,masquandosetrata
dealimentarafamíliaoudeprotegeranatureza,afamíliavemprimeiro.”
HilaryBrumberg,OsaConservation
Ficava ainda um problema por resolver: retirar
do interior do parque cerca de 250 colonos arrei-
gados, que contemplavam a empresa madeireira,
os vigilantes da natureza e os cientistas com graus
de hostilidade idênticos. No final, a maioria acei-
tou mudar-se para as terras que lhes foram ofere-
cidas no lado oriental da península, incentivada
por uma indemnização agregada superior a um
milhão de dólares para “melhorias” nas terras,
como desflorestação, plantações e edificações.
Durante muitos anos, registaram-se poucos
conflitos no parque. Foi então que o preço do
ouro começou a subir em flecha. A ideia de ga-
nhar fortuna desencadeou a segunda crise de
Osa. No início da década de 1980, cerca de 1.400
mineiros trabalhavam ilegalmente no parque.
“Os danos foram colossais”, contou Dan Janzen,
um destacado ambientalista sediado na Costa
Rica, recrutado em 1985 para estudar as repercus-
sões da actividade mineira. Quase todos os ani-
mais do terço mais a sul do parque foram caçados
para alimentar as comunidades de garimpeiros.
criar um corredor de vegetação ininterrupto de
Corcovado a Piedras Blancas e, por fim, até ao
vasto Parque Internacional de La Amistad, nas
montanhas de Talamanca, partilhado pela Cos-
ta Rica e pelo Panamá. Isto não só exigirá polí-
ticas governamentais amigas do ambiente, mas
também a aquisição de terrenos a agricultores e
a criadores de gado.
“As estratégias nacionais deram início a esta
grande alteração na floresta”, disse Andy. “Mas a
verdadeira ligação à vida selvagem tem de vir de
baixo para cima.”
Uma das razões para a abundância de espé-
cies em Osa é a escassez de uma em particular.
Até à década de 1960, a península era habitada
apenas por meia dúzia de garimpeiros de ouro,
ocupantes ilegais e foragidos, cuja reputação de
marginais contribuiu para manter a população
em geral à distância.
Nessa época, 80% da península ainda estava
coberta por floresta de crescimento antigo. Isso
começou a mudar no início da década de 1970,
Em vez de recorrer ao método que designou
por “pistolas e estrelas douradas” para expul-
sar os mineiros, Janzen recomendou que se
dedicasse um ano a conhecê-los para depois
os convencer a saírem de livre vontade ou a
enfrentarem a possibilidade de serem presos.
A estratégia funcionou, mas, nos anos seguin-
tes, o governo regrediu frequentemente para
uma abordagem mais militarista, que exacer-
bou o ressentimento da população local.
Rancho Quemado, perto do centro da penín-
sula, foi o lugar de aplicação mais catastrófica do
método das “pistolas e estrelas douradas”. O po-
voado fora erguido na floresta na década de 1960
por uma família chamada Ureña, oriunda de
Buenos Aires, na Costa Rica. Os seus habitantes,
como outros da península, subsistiam cultivando
a terra e caçando animais selvagens. A cada dois
anos, um bando de pecaris chegava a Rancho
Quemado, vindo do parque, e os caçadores da al-
deia matavam sempre cercade80%dosanimais
- uma matança muito acimadequalquerlimiar
de sustentabilidade.
quando, incentivada pela conclusão da Inter-
-American Highway South, a população du-
plicou para cerca de 6.000 pessoas, ocupando
principalmente a faixa de terra cultivada do lado
oriental da península. A maior parte da terra de-
sabitada pertencia a uma multinacional madei-
reira demasiado distante e mal gerida para exer-
cer controlo. Por isso, quem conseguisse limpar
um pedaço de terra poderia chamar-lhe seu.
Entretanto, um posto de investigação biológi-
ca da península também atraiu outra subespécie
humana: cientistas estrangeiros. Mais de mil es-
pecialistas visitaram a região na década de 1960.
À medida que os colonos se impunham na rica
bacia do Corcovado, no lado ocidental da penín-
sula, os cientistas ajudaram a fazer soar o alarme:
se não fosse criado um parque para proteger Osa,
as suas florestas e respectiva biodiversidade de-
sapareceriam. Liderado por Álvaro Ugalde, o pai
do sistema de parques da Costa Rica, o governo
negociou uma troca de terras complicada com a
empresa madeireira, que resultou na criação do
Parque Nacional de Corcovado em 1975. (Continua na pg. 42)