Adega - Edição 184 (2021-02)

(Antfer) #1

Revista ADEGA - Ed.184 | (^67)
DOC ou não DOC,
eis a questão
Porque alguns produtores, mesmo estando
em denominações famosas, decidem não
engarrafar seus vinhos como DOC?
por Arnaldo Grizzo
ES CO L A
DO VINHO
Desde os primórdios da vitivinicultura, os
produtores perceberam que algumas coisas
poderiam dar prestígio aos seus vinhos. No
Egito antigo, por exemplo, sabe-se que as
ânforas eram marcadas com o tipo de vinho, o
produtor e o local de origem. Em um mundo em
que a comunicação ainda era bastante precária,
detalhes como a proveniência passaram a
ser cruciais para o “marketing”. Assim, os
grandes vinhos da antiguidade quase sempre se
tornavam famosos por seus “terroirs”.
Um exemplo é o Falerno, um vinho
que fez enorme sucesso durante o Império
Romano, originário da região do Lácio, mais
precisamente dos arredores do monte Mássico.
A fama do vinho dessa região era tanta que
se acredita que tenha sido o primeiro a ser
falsificado na história. Aliás, historiadores
consideram a hipótese de que outro vinho
conhecido em sua época, o Mássico, tenha
desaparecido exatamente porque os produtores
da região passaram a usar o nome Falerno, que
era mais valorizado.
Ou seja, é interessante notar que, desde
tempos bastante remotos, o local de origem
sempre foi extremamente valorizado. São
inúmeras as citações sobre vinhos de locais
específicos (até mesmo na Bíblia) antes
mesmo do surgimento do que conhecemos
como denominações de origem controlada,
ou DOC. Desde a antiguidade, passando pela
Idade Média e chegando aos nossos dias, dizer
que um vinho veio de um local específico
geralmente faz com que o consumidor já tenha
uma clara ideia de como ele é, com que uvas é
feito, preveja estilos de aromas e sabores etc.
As primeiras DOC
A “proteção” de nomes como Champagne,
Barolo, Bordeaux, Tokay, Porto etc., contudo,
é recente. Na época em que a França era a
grande referência cultural para diversos países
da Europa e até da América, Champagne, por
exemplo, tornou-se sinônimo de espumantes.
Servido na corte e must entre a nobreza, em
pouco tempo produtores de outros locais
passaram a rotular seus espumantes como
Champagne para vender a mercadoria mundo
afora. Hoje, Champagne tem um conselho
regulador que, além de determinar os padrões

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