Adega - Edição 184 (2021-02)

(Antfer) #1

70 |^ Revista ADEGA -^ Ed.184


por exemplo, e quiser produzir um espumante
com método Charmat, por mais que use
somente uvas autorizadas, tampouco vai poder
apontar que ele é um vinho de Champagne,
pois o método tradicional é obrigatório.
Enfim, na maioria das vezes, as regras de
produção de uma denominação de origem
controlada são bastante rigorosas, com o
intuito de manter não somente tradições
enraizadas, mas também o que os órgãos
reguladores definem como seus níveis de
qualidade. As denominações mais tradicionais,
por exemplo, tendem a ter normas muito
específicas para o cultivo, delimitando castas
possíveis, tipos de manejos do vinhedo,
rendimentos, modo de colheita, uso ou não de
alguns maquinários, etapas de fermentação,
possibilidade ou não de correções, adições
etc., tipos de envelhecimento, de barricas a
serem usadas, tempo de guarda, datas mínimas
de lançamento etc., enfim, com “liberdades”
bastante restritas.
Em alguns locais, todavia, há
denominações bem menos restritivas, que dão
ao produtor uma ampla gama de possibilidades,
regulando quase que meramente as fronteiras
de onde as uvas podem vir, sem muitos

entraves. No entanto, a maioria das DOCs
obedece a padrões (mesmo que mínimos) para
que o nome da região possa representar mais do
que apenas um lugar para quem vai consumir
seus vinhos.

Fora da DOC
O que então representa uma DOC? Uma garantia
de qualidade? Uma camisa de força? A história
da regulamentação da DOC Chianti pode ajudar
a mostrar a dicotomia de pontos de vista que
muitas vezes surgem nas denominações de
origem. Como já dissemos, Chianti foi delimitada
e até certo ponto regulada em 1716, porém,
somente em 1967 o governo italiano criou seu
sistema oficial de proteção das denominações
de origem. E Chianti estava entre as primeiras
a ser regulamentada. Na época, boa parte dos
produtores acreditava que a oficialização da DOC
traria benesses para a região que passava por
uma severa e duradoura crise socioeconômica.
Alguns, contudo, não acreditavam que somente
isso pudesse alterar o cenário, já que o vinho
Chianti, devido à baixa qualidade, tinha ganhado
uma reputação ruim no mundo todo.
“Todos tinham grandes esperanças e lembro
de pensar que, se não fizéssemos algo, a DOC
talvez não fosse suficiente e não fosse capaz
de resolver os problemas. Todos pensaram que
isso (a DOC) seria a panaceia que solucionaria
todas as dificuldades. Portanto, fazer um vinho
que fosse contra as regras significaria ir contra a
corrente”, contou Piero Antinori, que na época
passou a fazer vinhos com uvas francesas,
não permitidas pelas regras de Chianti – cuja
“receita” havia sido elaborada em 1872 pelo
barão Bettino Ricasoli e só permitia Sangiovese,
Canaiolo, Malvasia e Trebbiano. Vinhos que
contivessem algo fora disso não ganhavam o
selo da DOC, sendo rebaixados para a categoria
“vino di tavola”. Em 1971, Piero criou um
blend com Sangiovese, Cabernet Sauvignon e
Cabernet Franc, denominando-o de Tignanello.
“Era um momento de crise. Se não fosse por
isso, Tignanello não teria nascido. Ele era uma
resposta a esse momento negativo. Buscávamos
algo diferente em termos de qualidade, pois,
nessa ocasião, a DOC não significava nenhum
valor adicional ao vinho”, comentou. E assim

Supertoscanos,
como Tignanello,
por exemplo,
nasceram do
descontentamento
de produtores
com as regras
da denominação
Chianti
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