VIAJEMAIS^21
agostinhos, soberanos por quatro
séculos, estruturaram o prédio em
torno do claustro, com jardim, ban-
cos de pedra e uma simpática fonte
no centro. Os padres jerônimos,
que assumiram a administração
no século 16, acrescentaram pai-
néis de azulejos às paredes e cria-
ram o Terraço dos Jerônimos, de
onde se tem a melhor vista do sol
poente. Celebrados pelo veio mo-
dernizante, é deles também a ade-
ga, bem como o primeiro sistema
de armazenamento de água e re-
frigeração do mosteiro.
Tudo isso se concentra onde hoje
está o restaurante: boa desculpa pa-
ra um jantar na casa. Com colunas
de granito e tetos abobadados, o
salão foi escavado no subsolo ro-
choso. A peculiaridade do ambiente
foi meu pretexto para encarar o
menu de jantar, uma sequência ma-
tadora de pratos como barriga de
leitão com creme de marrons, sal-
mão curado artesanalmente e ba-
calhau fresco com legumes. Para
arrematar, sempre eles: os doces
conventuais a base de ovo e muito,
muito açúcar.
Lá embaixo, Guimarães aguarda
paciente. Compacta, a cidade é para
ser percorrida a pé, mas tem atra-
ções suficientes para dois dias de
estada. Comecei minhas andanças
por onde a própria cidade começou
A Pousada Mosteiro de
Guimarães, instalada em
um antigo monastério de
frades agostinhos
FOTOS
: DIVULGAÇÃO
KARIN
HOCK
KARIN
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quitetura monástica às demandas
de um cinco estrelas. As celas dos
frades foram unidas aos pares em
22 quartos, e o prédio ganhou
piscina, bar e o excelente restau-
rante Dona Mafalda.
"Já visitaste A Porta?", perguntou
um funcionário sorridente, enquan-
to indicava o caminho até os quar-
tos. A fala pausada, escandindo cada
sílaba, sugeria algo importante, algo
óbvio... algo que eu deveria conhe-
cer. Observei o corredor do mos-
teiro e as portas que se sucediam
às dezenas à minha frente antes de
confessar toda minha ignorância.
A tal Porta era a Porta Moçárabe,
resquício de uma mesquita anterior
ao mosteiro. Ela é um dos inesgo-
táveis marcos arquitetônicos, que
funcionários apontam aqui e ali o
tempo todo. Tantos que ao final do
primeiro dia eu estava escolada no
traçado das colunas jônicas e das
portas e janelas renascentistas. Sabia
decifrar os painéis de azulejos joa-
ninos e conhecia os retábulos dou-
rados e brancos da Igreja de Santa
Marinha da Costa, integrada ao
prédio dos anos de 1700.
Esse amálgama arquitetônico
reflete a história local. Arrisco dizer
que a pousada é um microcosmo
de Guimarães. Cada personagem
e evento fundamental à cidade dei-
xou marcas físicas no mosteiro. Os