Delineando a pesquisa clínica 4a Ed

(AlbertoBarroso) #1
experiência prévia, identificar fatores de risco muito fortes. Por exemplo,
dos primeiros mil pacientes que tinham AIDS, 727 eram homens
homossexuais ou bissexuais e 236 usavam drogas injetáveis (3). Não foi
necessário um grupo-controle formal para concluir que esses grupos
apresentavam maior risco. Além disso, é possível que haja associações de
interesse clínico em uma amostra de pacientes com uma doença (p. ex.,
risco maior de sarcoma de Kaposi em pacientes com AIDS que eram
homossexuais do que em usuários de drogas injetáveis).
Uma vez que os estudos transversais medem apenas a prevalência, e
não a incidência, é preciso cautela ao buscar inferir sobre causalidade,
prognóstico ou história natural de uma doença. Um fator que está
associado a uma maior prevalência pode ser causa da doença, mas
também pode estar associado a uma duração mais prolongada. Por
exemplo, a prevalência de doença renal crônica depende não somente de
sua incidência, mas também da sobrevida a partir do momento em que a
doença surgiu. Devido à observação de que a obesidade está associada a
uma maior sobrevida em pacientes em diálise (4), um estudo transversal
sobre os preditores da doença renal crônica poderia superestimar a
associação entre obesidade e doença renal crônica.

Séries (painéis) de inquéritos


Uma série de estudos transversais de uma única população observada em
diversos momentos diferentes, por exemplo a cada 5 anos, pode ser usada
para inferir sobre mudanças em padrões que variam com o tempo. Por
exemplo, Zito e colaboradores (5), usando inquéritos transversais anuais,
relataram que a prevalência do uso de medicações psicotrópicas em
jovens com menos de 20 anos de idade aumentou mais de três vezes entre
1987 e 1996 em uma população do Medicaid na região do mid-Atlantic,
nos Estados Unidos. Séries de inquéritos transversais têm um eixo
temporal longitudinal, mas não são um estudo de coorte, pois uma nova
amostra é sorteada a cada vez. Como resultado, não é possível avaliar
mudanças em cada indivíduo, e os achados podem ser influenciados por
pessoas entrando ou saindo da população (e, portanto, das amostras)
devido a nascimentos, a óbitos e à migração.
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