Delineando a pesquisa clínica 4a Ed

(AlbertoBarroso) #1
uma probabilidade razoável (80%) de detectar um fator de risco muito
forte (p. ex., um risco relativo de 50), seria necessário incluir mais de 6
mil homens, pressupondo proporções grosseiramente iguais de
circuncidados e não circuncidados. Um ensaio clínico randomizado sobre
circuncisão no nascimento exigiria o mesmo tamanho de amostra, mas os
casos ocorreriam em média 67 anos após o ingresso no estudo. Seriam
necessárias três gerações de investigadores para acompanhar os sujeitos.
Agora considere um estudo de caso-controle sobre a mesma questão.
Para a mesma probabilidade de detecção do mesmo risco relativo, seriam
necessários apenas 16 casos e 16 controles (e não muito tempo
despendido pelo investigador). Para doenças raras ou com longos
períodos de latência entre a exposição e a doença, os estudos de caso-
controle são muito mais eficientes do que os outros delineamentos. Muitas
vezes, inclusive, são a única opção factível.

Utilidade na geração de hipóteses


A abordagem retrospectiva dos estudos de caso-controle e sua capacidade
de examinar um grande número de variáveis preditoras os tornam úteis
para a geração de hipóteses sobre as causas de um novo surto de doença.
Por exemplo, um estudo de caso-controle sobre uma epidemia de
insuficiência renal aguda em crianças do Haiti encontrou uma razão de
chances de 53 para a ingestão de xarope de paracetamol fabricado na
região. Investigações mais detalhadas revelaram que a insuficiência renal
foi causada pela intoxicação por dietilenoglicol, que contaminou o xarope
de paracetamol (10), um problema infelizmente recorrente (11).

Pontos fracos dos estudos de caso-controle


Apesar das vantagens dos estudos de caso-controle, eles apresentam
também algumas limitações importantes. Em primeiro lugar, é possível
estudar apenas um único desfecho (presença ou ausência da doença, que
foi também o critério para selecionar as duas amostras), ao passo que os
estudos de coorte e transversais (e também os ensaios clínicos) permitem
estudar diversas variáveis de desfecho. Em segundo lugar, como já
mencionado, as informações que os estudos de caso-controle podem
fornecer são limitadas: não há como estimar diretamente a incidência ou
prevalência da doença, nem o risco atribuível ou o excesso de risco, a não
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