Delineando a pesquisa clínica 4a Ed

(AlbertoBarroso) #1

por conversas informais com outros cientistas nas sessões de pôsteres e
durante o intervalo. Um investigador iniciante que vence a timidez e
consegue conversar com um palestrante durante o coffee break poderá ver
que essa experiência é muito proveitosa e, por vezes, acabará atraindo um
novo colaborador sênior nesse processo. Quando se sabe com
antecedência da presença de um palestrante especialmente relevante, vale
a pena contatá-lo previamente para agendar um encontro durante o
congresso.
Uma atitude cética sobre ideias correntes pode estimular boas questões
de pesquisa. Por exemplo, acreditava-se que ferimentos cutâneos que
atravessavam a derme exigiam aproximação com suturas para assegurar
uma cicatrização rápida e um resultado estético satisfatório. No entanto,
Quinn e colaboradores observaram, mediante experiência pessoal e séries
de casos, que os ferimentos cutâneos de tamanho moderado sofrem reparo
adequado independentemente de seus bordos terem sido aproximados ou
não (2). Eles realizaram um ensaio clínico randomizado no qual todos os
pacientes com lacerações na mão com menos de 2 cm de comprimento
receberam irrigação com água de torneira e um curativo com antibióticos
por 48 horas. Um dos grupos foi alocado aleatoriamente para receber
sutura e o outro grupo para não receber sutura. O grupo em que a sutura
foi feita teve um tratamento mais doloroso e que consumiu mais tempo no
serviço de emergência, porém uma avaliação cega mostrou que o tempo
até a cicatrização e os resultados estéticos foram semelhantes aos do
grupo em que a sutura não foi feita. Essa conduta agora se tornou padrão
na prática clínica.
A adoção de novas tecnologias gera novas percepções e
questionamentos sobre problemas clínicos bem-conhecidos, o que, por
sua vez, pode originar novos paradigmas (3). Por exemplo, os avanços de
imagem e de tecnologias moleculares e genéticas originaram pesquisas
clínicas translacionais que levaram a novos tratamentos e exames que, por
sua vez, mudaram a prática clínica. Da mesma forma, aplicar um novo
conceito, tecnologia ou achado de uma área a um problema de outra área
pode gerar boas questões de pesquisa. Por exemplo, a baixa densidade
óssea é um fator de risco para fraturas. Investigadores aplicaram essa
tecnologia para outros desfechos, demonstrando que mulheres com baixa
densidade óssea têm maiores taxas de declínio cognitivo (4), estimulando

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