Elle - Portugal (2021-03)

(Antfer) #1
ELLE PT 23

«Até ao ano passado, havia o estra-
nho modelo “atípico”, mas nada de
significativo. Agora temos marcas
como a Gucci, a Marc Jacobs e a Stella
McCartney a contactar-nos», acres-
centa. A Selfridges também. E há uma razão muito simples – e
crucial – para que isso aconteça: «É o que os jovens querem».
Um relatório do mercado de luxo da McKinsey afirma que
nove em cada dez consumidores da geração Z acredita que as
marcas devem ser inclusivas, defendem a representatividade
e a individualidade e alinham-se com causas sociais, políti-
cas e ambientais. Essa geração tem um poder de compra de
350 mil milhões de dólares só nos Estados Unidos, tendo
representando 40% dos consumidores globais em 2020. A
exclusividade e o elitismo já não vendem como antes, por isso
as marcas “inteligentes” estão a adaptar-se.


A MUDANÇA PARA CASTINGS DE CARÁCTER, como são
agora conhecidos, tem vindo a infiltrar-se há algum tempo,
impulsionado pelo sucesso da Gucci desde que Alessandro
Michele, um designer conhecido por celebrar a individua-
lidade e a excentricidade, foi nomeado diretor criativo em



  1. A Balenciaga, do designer Demna Gvasalia, também
    teve influência. Para a sua apresentação da coleção de prima-
    vera-verão 2020, realizada em setembro de 2019, os modelos
    “não tradicionais” ou “nãodelos” da agência Tomorrow Is
    Another Day foram nomeados nas notas de apresentação,
    assim como os detalhes dos seus empregos diários. «Modelos
    de várias áreas profissionais influenciam os padrões de beleza


do passado e do futuro», diziam as notas. Entre
eles, Erwin, um arquiteto de cabelos grisalhos com rugas e
linhas de expressão; Gabriella, uma funcionária de limpeza
de hotel com traços marcantes; Sveta, uma violinista com
uma linha de maxilar bem definida; e um conjunto de outros
indivíduos interessantes com histórias envolventes – vestidos
com roupas luxuosamente produzidas.
Os modelos tradicionais ainda compõem a maioria dos que
são escolhidos (mais em linha com os supermodelos de outrora,
com 1,75cm de altura e um conjunto de medidas padrão que
façam com que fiquem bem nas roupas do tamanho de amos-
tras). Os desfiles das coleções de primavera-verão 2021 podem
confirmar isso mesmo. No entanto, as Bellas Hadid da vida são
cada vez mais acompanhadas por pessoas que são contratadas
porque são interessantes ou porque têm um look incrivelmente
diferente do habitual – artistas que mal chegam a ter 1,5m,
drag queens voluptuosas e designers que se identificam como
não binários – e modelos de todas as idades como se pode ver
na Marni, Chloé, Fendi e muitas mais.
Para responder aos pedidos de castings de carácter in-
clusivos, nascem uma série de agências de modelos de nova
geração que afirmam ter contratado os próximos modelos de
topo. Cada uma delas define-se como “única” e têm nomes
que sugerem algo anti-sistema ou voltado para o futuro.
A proposta da Revolt é ter modelos reconhecidos pelas

OS MODELOS “NÃO
TRADICIONAIS”,
QUE SÃO PESSOAS
“COMUNS”,
TÊM CADA VEZ
MAIS DESTAQUE
NAS PASSARELAS E
NAS CAMPANHAS.

À direita: a Gucci
trocou as modelos
pelos seus funcionários
para mostrar a
coleção Resort 21.
À esquerda: Ísold
Halldórudóttir
numa campanha
da Marc Jacobs.
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