Elle - Portugal (2021-03)

(Antfer) #1
ELLE PT 25

às restrições. «O Covid fez com que as coisas se movessem
nessa direção meramente por causa de um ponto de vista
prático; muito do que vimos foi criado enquanto as pessoas
não podiam viajar. Mas impulsionou certamente a ideia de
individualidade e inclusão», diz Chandler.
Desde então, parece que as marcas de moda de luxo e as
agências de modelos tradicionais – incluindo nomes sonan-
tes como a IMG, que representa “supers” da velha guarda
como Karen Elson, Jourdan Dunn e Kate Moss – abraçaram
a mudança. «Houve uma mudança tão grande que o meu
trabalho como diretora de casting é muito mais simples»,
explica Chandler, que antes tinha que trabalhar durante
semanas no casting de rua. «As agências agora representam
uma gama muito mais ampla de talentos do que há cinco
anos atrás. Quando começámos, tivemos que trabalhar muito


para encontrar pessoas fora das agências, mas tenho o prazer
de dizer que agora posso ir a uma agência [tradicional] e ver
uma maior amplitude de talentos para contratar.»

SE QUISER INTERPRETAR ISTO COM CINISMO, poderia
argumentar que o panorama económico complicado encorajou
a indústria da moda a dirigir-se a um público mais amplo, par-
ticularmente ao mercado da geração Z, que valoriza a inclusão
e a expressão individual. Mas a ex-designer da Chloé, Natacha
Ramsay-Levi, defende que todos nós nos queremos conectar
com a moda a um nível humano, e ainda mais quando vivemos
numa época de agitação política e social, e isso inclui conec-
tarmo-nos com os modelos enquanto indivíduos. «“Modelos”
é uma palavra estranha de se usar, já que, para mim, modelos
também são talentos», afirma, refletindo sobre o desfile de
primavera-verão 2020 da marca de luxo francesa que incluiu
a escritora Pauline Klein, a dançarina e atriz Sofia Boutella e
uma funcionária, a Laïa. «Todas elas deram uma intimidade
especial à apresentação», diz Ramsay-Levi.
Como é óbvio, a moda não opera de forma isolada. Muitos
dos clientes da Revolt são editoras discográficas e músicos. A
banda sonora que toca enquanto as irmãs Maslin e Findlay
trocam atualizações nos seus escritórios residenciais é, geral-
mente, a dos artistas com quem os seus modelos apareceram
nos videoclipes, como Stormzy e Dua Lipa (uma artista que
Findlay diz, a brincar, não estar familiarizado, explicando a
rir: «Eu sou mais do tipo underground – prefiro ouvir música
de pessoas que vocês nunca ouviram falar»).
Houve um foco crescente na representatividade em 2020,
intensificada pelo ativismo do Black Lives Matter após a morte
de George Floyd, com uma exigência geral para que as em-
presas e marcas mais visíveis do mundo façam mais e melhor.
Com a representatividade ampliada – mais individualidade,
mais personalidade e a celebração de uma gama mais ampla
de atributos físicos – a moda está a mover-se nessa direção.
Chandler acredita que o discurso em torno dos castings vai,
sem dúvida, mudar, normalizando os conceitos de “não con-
vencional” e “atípico” e caminhando para a sua abolição. Até
porque esse é o objetivo principal: representar toda a gente.
A representatividade só irá solidificar-se com a inauguração
de uma série de outras agências de nova geração que possam
trabalhar com clientes de luxo: há a Zebedee Management,
que trabalha a falta de representatividade de modelos com
incapacidade física e mental; a New Pandemics, que se foca
na visibilidade de modelos LGBTQ+, e muitas mais que estão
entretanto a surgir em todo o mundo. «Quando começámos a
Midland, em 2016, costumavam questionar-nos: “Isto é uma
moda?”», diz Chandler. «Posso dizer com toda a certeza que
não o é». As irmãs Maslin da Revolt concordam: «Tudo está a
avançar numa direção» diz Sophia, «A de que vamos passar a
ver um lado mais humano da sociedade». Q S.M.

Os modelos
escolhidos pela
Marni (todos eles)
são donos de
corpos de formas e
cores diferentes.
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