Elle - Portugal (2021-03)

(Antfer) #1
ara entrevistar uma top model à distância (algo
que é comum agora, dadas as circunstâncias), os
protocolos são sempre complicados. Demora muito
tempo para acertar o dia e a hora e, quando a data
finalmente chega, é o agente que controla as opera-
ções. No entanto, com Eva Herzigova (nasceu na República
Checa, em 1973) o processo é diferente. Tudo se resume a
um simples: «Este é o número da Eva, quando prefere falar
com ela?». Depois de acertarmos todos os pormenores
(de acordo com as agendas de ambas), marco o número.
«Eva?», pergunto. «Ciao! Desculpe», responde a modelo
em italiano. «Apanhou-me no elevador.
Estou a correr para casa. Pode-me ligar
daqui a cinco minutos? Obrigada!».
Esta breve troca de palavras resume na
perfeição a personalidade da mulher que
soube escrever o seu próprio capítulo na
história da moda: natural, enérgica, em-
pática, próxima, simples (há qualidades
melhores hoje em dia?). Resumindo, ela
é uma pessoa “normal”. Passados os tais
cinco minutos, iniciamos, mais do que
uma entrevista, uma conversa em que
Herzigova mostra um surpreendente
interesse em quem está do outro lado
da linha. Eva é assim.

ELLE: Quais adjetivos a definem?
E VA HERZIGOVA: Por exemplo, sou muito ansiosa. Tenho
três filhos, três meninos que são um pouco imprudentes,
que correm, saltam, escondem-se... Entre os três, já partiram
12 ossos! É por isso que estou sempre focada em garantir
que nada de mal lhes aconteça. Também me considero uma
pessoa honesta e sincera.
E considera-se uma supermodelo?
Uma supermãe, prefiro. Acho que a situação que estamos
a viver fez-nos parar para refletir sobre o trabalho, a pater-
nidade, a amizade, a maneira como vivemos e quais são
as nossas prioridades. Penso que agora, de alguma forma,
todos somos super-humanos, porque a pandemia tem sido
um desafio à escala global, especialmente para os mais pe-
quenos, que não podem aprender ou interagir uns com os
outros como deveriam.

A sua escala de valores sofreu alterações com os anos?
Acho que não, os meus valores permanecem os mesmos.
O que acontece é que a minha forma de os apreciar agora é
diferente. Ser gentil, ser grata pelo que tens, passar tempo
com quem gostamos e parar de correr de um lugar para outro
passou a ser mais importante para mim. Agora as pessoas
olham mais para dentro de si mesmas para ver quem real-
mente são e têm atenção aos seus sentimentos. Ainda bem.
A sua carreira como modelo começou quando ganhou um
concurso de beleza. Resumidamente, como é que a sua vida
mudou desde esse momento?
Amo mudanças. Quando tens 16 anos, queres é explorar o
mundo, mas os teus pais tendem a dizer: “Não, esse não é
o caminho”. Nunca tive essa experiência. Era uma miúda
independente, curiosa, muito responsável e acho que era
inteligente o suficiente para me orientar. Cresci num país
comunista, pelo que os meus pais também acharam que
era uma boa ideia eu viajar. A escola facilitou o meu estudo
à distância e o governo deu-me um visto. Aproveitei a
oportunidade. Era rebelde, obviamente,
mas à minha maneira, com bom senso.
E rapidamente se tornou uma modelo
de elite. O que significa para si ser uma
top model? Pertencer a esse grupo?
É incrível olhar para trás e recordar-me
daqueles anos, quando a criatividade
estava em todo o lado e havia liberdade
absoluta para a expressar. Não havia
regras escritas e os projetos interessantes
multiplicavam-se. Foi uma época mara-
vilhosa e tive a sorte de fazer parte dela.
Entrou no mundo da moda na época
em que Naomi Campbell, Linda Evange-
lista, etc eram as grandes estrelas das
passerelles. Foi difícil conseguir entrar
naquele grupo super exclusivo?
Comecei quando as supertops já estavam estabelecidas, era
muito mais nova que elas. De seguida, vieram as modelos da
geração grunge, o waif look, como a Amber Valetta, Shalom
Harlow ou Kate Moss.De repente, não me encaixava em
nenhum dos grupos. Por um lado, não tinha a experiência da
Claudia (Schiffer) ou Naomi; por outro, cheguei um pouco
antes da nova vaga, estava entre as duas correntes. Mas, na
verdade, acabou por ser algo muito positivo porque tive o
melhor dos dois mundos (risos).
Ainda se mantêm em contacto?
Claro! Andámos na mesma escola (risos). É divertido quando
temos a oportunidade de estar juntas.

ELLE PT 41

P


«SORRIR É UMA
ESCOLHA E
É BOM FAZÊ-LO
PARA NÓS MESMAS
E PARA AQUELES
QUE ESTÃO À NOSSA
VOLTA. TEMOS
QUE PROJETAR
ALEGRIA.»
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