Elle - Portugal (2021-03)

(Antfer) #1

ATITUDE


50 ELLE PT


porque eram pessoas que estavam na mesma sintonia que eu,
que me respeitavam. Percebi que ter sucesso profissional e
ser considerada uma pessoa talentosa na minha área era mais
importante para mim do que aquilo que imaginava».

Aquilo que Rosa descobriu não foi o seu ego, mas sim os
seus valores, os seus princípios. Os valores são essencialmente
o que faz cada uma de nós, bem, cada uma de nós. O que
nos faz funcionar. Eles são uma parte fundamental da nossa
identidade e da nossa constituição psicológica. «E eles são o
caminho para a realização profissional, porque são os valores
individuais que dão significado ao trabalho – e isso é, em
última análise, o que importa», explica Lisa Quinn, coach
profissional. Lisa reinventou-se após anos como diretora
de comunicação de uma empresa de co-
municação social. Por ter uma profissão
muito exigente, Quinn fez um curso de
coaching como parte do seu desenvolvi-
mento profissional e gostou tanto que
soube imediatamente que queria fazê-lo
a tempo inteiro. Agora, grande parte da
sua vida é passada a ajudar os outros a
mudarem as suas carreiras. Ao contrário
de mim e de Rosa, Quinn é um caso de
reinvenção de sucesso.
O grande problema – como Quinn
(e a ciência) afirma – é que, quando se
trata de escolhas profissionais, muitas
vezes somos seduzidos por outros fatores.
Nomeadamente, o valor do ordenado e
as regalias, apesar dos estudos nos mos-
trarem que o aumento salarial não nos
faz mais felizes. Uma pesquisa realizada
por Sonja Lyubomirsky – professora e
especialista em psicologia da felicidade
na Universidade da Califórnia – revelou
que se as pessoas ganham 30 mil dólares
dizem precisar de 50 mil dólares para se
sentirem felizes. E as pessoas com 100
mil? Precisam de 250 mil! (Apesar deste
resultado, uma pesquisa de 2018 da Bet-
terUp Labs mostra que nove entre 10 pessoas prefeririam
trocar 23% dos seus ganhos futuros por um emprego que
as fizesse sentir mais realizadas a longo prazo).
Se não é uma questão monetária, começamos então a
reparar em pessoas com o mesmo conjunto de talentos que
nós a serem bem-sucedidas em algo que sabemos que tam-
bém podemos fazer, e começamos a pensar que é isso que
devíamos estar a fazer (culpa!). «Mas os nossos valores não
são todos iguais», aponta Lisa. «O que me dá satisfação não
vai ser o que dá satisfação a outra pessoa». Numa pesquisa

de 2019 da Ipsos Global Advisor, 85% das pessoas com
menos de 35 anos afirmaram que ter um trabalho grati-
ficante era uma fonte de felicidade. Penso que podemos
assumir com segurança que nem todas de nós estão a lutar
contra as alterações climáticas ou a salvar vidas. A noção
de gratificante, de sentir que fazemos algo que tenha um
propósito só é alcançado quando o trabalho que fazemos está
alinhado com os nossos princípios pessoais. Se um dos seus
valores é a criatividade, preencher mapas de dados ou ter
um trabalho padronizado não vai funcionar. Se é uma pessoa
que valoriza o intelecto, um trabalho em que está rodeado
por colegas que admiram a sua capacidade intelectual ou
apreciam o seu julgamento vai ser uma boa opção para si.
O seu propósito, neste caso, é utilizar o seu intelecto de
forma positiva. O contexto ou resultado
não importa. O importante é que esteja
alinhado com os seus princípios.
No caso de Rosa, um dos seus valores
é a excelência. Então, quando um chefe
autoritário faz com que ela não consiga
ser tão boa no seu trabalho como ela sabe
que podia ser, sofre. Os princípios são tão
importantes como a forma como vemos
o nosso trabalho. Amy Wrzesniewski,
professora e especialista em comporta-
mento organizacional na Yale School of
Management, define esta situação como
job crafting. Wrzesniewski descobriu que
os empregados de limpeza de hospitais
que se viam como parte da equipa médica
mais ampla – e, portanto, do processo de
cura dos pacientes – obtinham muito
mais satisfação com o seu trabalho. Por
outras palavras, se conseguirmos ajustar
a nossa perceção para que esta se alinhe
com os nossos valores, o nosso trabalho
vai realizar-nos mais.

Enquanto conversamos por Zoom –
ao mesmo tempo que ignoro a pilha de
tarefas do meu novo eu que não me apetece
fazer – Lisa incentiva-me a visualizar a vida quando as coisas
são fáceis, quando estou a viver no momento, quando não
é uma luta ou um trabalho árduo e tudo flui e sinto-me na
melhor versão de mim mesma. Ela explora e expande vários
tópicos que menciono e faz-me perceber como certos aspetos
da minha vida são importantes para mim.
É no reflexo que encontramos as respostas. Nem sempre
é fácil ver a forma como as coisas que nos fazem sentir bem


  • ou não – são realmente um valor pessoal. Por exemplo,
    andar descalça no jardim ou na praia: é algo aleatório sem


Kim Kardashian-
West tem um
projeto de
reforma prisional.

NÃO É EGOÍSTA
RECONHECER
E ADMITIR
QUEM SOMOS


  • É SINAL DE
    INTELIGÊNCIA.

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