Elle - Portugal (2021-03)

(Antfer) #1

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ELLE PT 51

um propósito específico, mas traz-me paz e tranquilidade.
Tal como fazer ioga; é a única coisa que consegue acalmar a
minha mente agitada. Mas sempre pensei que fossem apenas
coisas que gosto de fazer. Lisa sugere que esses são indicadores
muito fortes dos meus valores pessoais: liberdade, amor pela
natureza e mindfulness.
Não estranharão se vos disser que, há uns anos, tive
um esgotamento devido à pressão de um emprego de
alta exigência e intensidade na movimentada capital
do país. Ser freelancer é, muito provavelmente, bas-
tante mais compatível com a minha personalidade.
Mas, agora, estou numa função que exige que esteja
conectada à tecnologia mais do que nunca. Talvez essa
superestimulação mental seja o que está a deixar-me
com a sensação de fadiga extrema.
Analisar os seus sentimentos negativos pode
ser tão útil quanto refletir sobre os positivos: «Os
valores são essencialmente sentimentos», explica
Lisa. «Muitas vezes, quando senti-
mos algo negativo, é porque os nos-
sos valores foram comprometidos.
Portanto, devemos fazer um esforço
para nos sentarmos com esses sen-
timentos durante algum tempo e
tentar percebê-los».

«Outro passo é analisar as suas
obsessões», acrescenta. Quais são
os assuntos que os seus amigos e
familiares usam para brincar con-
sigo? Por vezes, podemos levar uma
crença ao extremo. Se é perfeccio-
nista, por exemplo, um dos seus
traços de personalidade pode ser
a excelência, que sofreu uma mutação por algum motivo.
Concentre-se no valor que está na base da mutação, ao
contrário da mutação em si».
Consigo rever-me nisso. Tal como Rosa, a excelência e o
respeito são traços da minha personalidade. Sei que há pes-
soas que diriam que sou parva – ou até arrogante – por ficar
frustrada com um cliente que quer fazer as coisas à maneira
dele e não à minha. Porque não consigo simplesmente aceitar
e ficar com o dinheiro? Bem, agora sei que é porque estou a
comprometer os meus valores e sinto-me mal por isso. Reco-
nhecer esta situação em vez de me sentir culpada ou incapaz
de mudar de perspetiva, é muito importante.
Resumidamente, não é egoísta reconhecer e admitir quem
somos – é sinal de inteligência. «Os nossos princípios são
o que nos mantém firmes», diz Lisa. «Reinventar-nos nem
sempre é fácil. Antes de ser coach, o meu trabalho anterior na
área de comunicação vinha acompanhado de muito status e

glamour; basicamente, passava no teste das conversas sociais
quando dizia algo do género “A Taylor Swift mandou um
cartão de aniversário à minha filha”. Então, quando deixei
tudo, é claro que me questionei se tinha feito a coisa certa.
Mas mantive-me fiel aos meus princípios: “Estou a aprender?
Estou a ajudar os outros a desenvolverem-se? Estou a ser
desafiada?” Todas estas ques-
tões significam algo para mim
e a resposta a todas elas sempre
foi sim. Isto manteve-me na
direção certa. Sabia que estava
a fazer um sacrifício por algo
que valia a pena».
A impossibilidade de criar
este tipo de final feliz, acaba por
dar origem a algo que é menos
difundido nas redes sociais: o
voltar à casa de partida do pro-
cesso de reinvenção. Rosa acabou
por voltar para a mesma empresa
que tinha deixado – será que
ela sente que a sua tentativa de
reinvenção falhou? «Sim e não.
O tempo passado num ambien-
te de trabalho diferente nunca
é em vão. Por um lado, se não
tivesse percebido quais são os
meus valores, não tinha voltado ao meu trabalho
atual. Pode parecer – pricipalmente para as outras
pessoas – que é um passo atrás. Como se eu não
conseguisse sobreviver num ambiente diferente.
Mas, na verdade, estou muito mais feliz aqui. E
a vantagem é que agora também vejo o futuro
de uma forma mais clara. Sei do que preciso e sei
aquilo com o qual não consigo lidar».
Será que vou dar um passo atrás? Por enquanto, estou
a pairar algures no meio de todos estes cenários. Continuo
com os clientes de redes sociais que me permitem ter alguma
liberdade e criatividade. Mas deixei os restantes para puder
assumir projetos editoriais mais substanciais com os quais
consigo divertir-me. Também pratico ioga regularmente,
porque percebi que sou melhor e mais feliz quando isso é
uma prioridade na minha vida; aliás, até estou à procura de
cursos de ensino de ioga. Já tinha descartado esta ideia como
um sonho com o prazo de validade expirado. Mas, depois de
reconhecer a importância do yoga na minha vida, reacendeu
algo em mim. Talvez possa ser um part-time no futuro, ou
até mesmo uma carreira inteiramente nova.
Mais importante: tenho a minha lista de valores pendu-
rada na parede do meu escritório. Eles são o meu novo guia
no que diz respeito à realização profissional. QK.M.

Esther Mcvey (em
cima) e Elizabeth
Gilbert (à esquerda)
são exemplos de
mudanças
profissionais
e de vida.
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