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Revista Época/Nacional - Vivi para contar
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Rafael Galdo


José Paulo da Conceição é daqueles artistas que, como
canta Martinho da Vila em seu samba para a Vila Isabel,
trabalha “o ano inteiro em mutirão” para construir as
ilusões da Sapucaí. Ele começou varrendo barracão, foi
aderecista e chapeleiro até se tornar empreiteiro-chefe
de carro alegórico, responsável pela equipe de
decoração dos gigantes que vão para a avenida. É com
esse talento que Conceição sustentou a família e
comprou sua casa em Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense.


Mas, neste ano, a reboque dos impactos da pandemia,
ele é mais um mergulhado em incertezas. Integra a
legião de profissionais que, com o inédito cancelamento
dos desfiles no Sambódromo, estão sem sua principal
fonte de renda. “Estou mais preocupado com uma das
maiores conquistas que o Carnaval me deu, que é
poder dar uma educação melhor a meu filho, de 13
anos. Pago R$ 270 de mensalidade numa escola
particular. As aulas recomeçaram e não tenho dinheiro
para a rematrícula, nem para os livros”, disse
Conceição. Quem tem tentado segurar as pontas da


família é sua mulher, cozinheira de uma lanchonete.

Conceição contou que os últimos tempos só não foram
piores devido a ações solidárias promovidas por sua
escola atual, a Grande Rio, e também por outras
agremiações, que fizeram doações de cestas básicas.
Pela primeira vez, ele chegou a pensar em desistir do
Carnaval. O que o demoveu da ideia, ao menos por
enquanto, foi o orgulho que sente do que faz. “Não tem
preço ver todo mundo encantado e fotografando a
alegoria que você ajudou a fazer. No ano passado,
filmei o momento em que uma menina, assistindo à
Grande Rio, dizia que o carro que minha equipe
decorou, representando uma roda de orixás, era o mais
bonito. É gratificante”, afirmou, com os olhos marejados.

Dados da prefeitura do Rio de Janeiro mostram que o
período do Carnaval injeta R$ 4 bilhões na cidade.
Olhando para o país como um todo, a Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC) projeta em R$ 8 bilhões as receitas geradas por
atividades turísticas ligadas às celebrações de fevereiro.
Num ano normal, mais de 25 mil trabalhadores
temporários são contratados.

No Rio, a proposta de desfiles em julho parecia uma luz
no fim do túnel. No início deste mês, no entanto, quando
o prefeito Eduardo Paes (DEM) anunciou — com o
apoio da maioria dos sambistas — o cancelamento dos
festejos fora de época, tudo se tornou mais nebuloso
para os que têm na folia seu ganha-pão. A promessa do
município é instaurar ajudas específicas a esses grupos.

A costureira Simone Maria dos Santos, também
moradora de Duque de Caxias, confecciona fantasias
para a Passarela do Samba há 26 carnavais. Entre um
desfile e outro, ela costumava ter pouco descanso. Após
a Quarta-Feira de Cinzas, não demorava a ser
contratada para a execução dos protótipos dos figurinos
para o ano seguinte. Numa segunda etapa, chegava a
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