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(Antfer) #1

EDITORIAL - A festa dos gastos sem controle


Banco Central do Brasil

Revista Isto é/Nacional - Editorial
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
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Autor: Carlos José Marques


Arma-se um espetáculo grotesco para os próximos dias
em Brasília, logo após as folias de Momo. Como toda e
qualquer promessa lançada pelo Planalto, não valeu a


ideia de encerrar o programa do Auxílio Emergencial,
grande alavanca eleitoreira para mandatários em
dificuldades de imagem. Há duas semanas, era o
presidente em pessoa quem dizia que não havia a
menor chance de bancar mais uma vez o benefício, sob
pena de quebrar o País. Mudou de ideia, mudou de
versão, e agora quer a liberação do “Auxílio” para
ontem. Essa volatilidade mercurial de Bolsonaro tem,
como sempre, tudo a ver com os seus anseios de apoio
nas urnas. As recentes pesquisas com índices
negativos de popularidade e o alerta dos aliados do
Centrão de que, sem o “Auxílio”, ele não se reelegerá
em 2022, bastaram. O capitão, que anda em sintonia
absoluta com o pragmatismo rastaquera e venal do
bloco baixo clero, converteu-se. Foi facilmente
convencido. Apareceu da rebordosa um problema do
tamanho do Everest. De onde tirar os recursos? Para se
ter ideia, um “Auxílio” da ordem de R$ 300 (metade dos
R$ 600 inicialmente praticados) custaria aos cofres
públicos algo como R$ 25 bilhões por mês, ou R$ 100
bilhões em quatro meses. O governo, no momento,
cogita um valor na faixa de R$ 200 e por três meses.
Mesmo assim, é bolada sem lastro algum. Não está
prevista no Orçamento Geral da União — que, aliás,
nem foi aprovado ainda pelo Congresso — e não conta
com qualquer “empréstimo” extra para cobrir o rombo. O
risco de aventura está no ar. O mercado teme que as
autoridades sigam pela via do endividamento público,
fragilizando financeiramente a União e com efeitos
colaterais como o aumento da inflação e de juros. O
Banco Central já sinalizou que revisões de taxas para
cima podem ocorrer caso o “Auxílio” venha. Como alega
a instituição, há pouco ou nenhum espaço para mais
transferências fiscais sem contrapartidas. O caminho do
benefício populista é tentador, de apelo fácil, mas pode
e deve frear as condições de desenvolvimento futuro.
Ao gastar o que não tem, as consequências negativas
superam qualquer vantagem. O próprio mandatário deu
a senha, de novo, na quarta-feira, 10, com uma
desfaçatez sem tamanho: “a medida é endividamento
para o governo sim, não temos dinheiro no cofre”. Em
outras palavras, ele está plenamente consciente do erro
que poderá fazer. Mas seguirá adiante. Por puro e
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