ARTIGO - Assim como Lucas, digamos não à barbárie
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
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Autor: Rosane BorgesNão foram necessários muitos dias de confinamento
para que a 21ª. edição do Big Brother Brasil reafirmasse
a lógica que cimenta o espetáculo da barbárie desde a
sua primeira edição, em 2001: competição, humilhação,
mérito, egoísmo, autoritarismo, autoexposição,
desumanização... A edição de 2021 veio com uma
questão suplementar, que logo se tornou central: a
presença significativa de pessoas negras, que eram
sete até a saída de Lucas Penteado. Embora não sejam
maioria, o ineditismo foi o bastante para que os
holofotes dentro e fora da casa jogassem luz nas
dinâmicas das relações raciais no Brasil, como se a
microrrede de intrigas fosse um exemplar do que
acontece na vida como ela é.Não quero com isso dizer que a vida fora da bolha do
Big Brother não conheça a tirania, a destituição, a
concorrência desleal, o apego ao mérito. Longe disso.
Chamo atenção para o fato de que se temos de depor
nossos olhares, quase que compulsoriamente, num
programa que reativa os piores instintos, parece que o
empobrecimento da experiência se tornou
lamentavelmente uma cifra do nosso tempo. Um dos
conceitos mais bonitos diz que experiência é aquilo com
o qual saímos transformados, a experiência não
artificializa o vivido. Por que então depor nossos olhares
num programa que artificializa a experiência sem abrir
mão, contudo, do que sacrifica a nossa condição de
humanos? Por que perseverar em torno do roteiro de
um filme extenso que leva todos à exaustão? Por que
cedemos a um espetáculo montado para ganhar
dinheiro por meio de uma máquina tirânica cujas
engrenagens moem a todos, os que estão dentro e fora
da casa?Notem: minhas indagações não passam por uma
estética do gosto (Big Brother é um programa ruim,
despolitizado, uma vez que eu mesma usufruo de uma