ESG – A riqueza que está no ar
Banco Central do Brasil
Revista Exame/Nacional - Noticias
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - B3
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Autor: Rodrigo Caetano, Maria Clara Dias, com Beatriz
Quesada e Guilherme Guilherme
O mercado de créditos de carbono, emitidos por
empresas dispostas a compensar a poluição que
causam, já movimenta 229 bilhões de euros. E abre
oportunidades inéditas para empreendedores brasileiros
A história do paulista Ricardo Stoppe é, provavelmente,
um dos melhores exemplos de como é possível ganhar
dinheiro mantendo florestas de pé — e de como a
preservação dos recursos naturais é um dos caminhos
mais promissores para a economia brasileira daqui para
a frente. O médico de Birigui, cidade pacata no interior
de São Paulo, tinha um sonho de criança de ser
fazendeiro.
Há pouco mais de uma década, Stoppe largou a vida na
cidade por uma propriedade de 150.000 hectares na
região do Rio Ituxi, perto da fronteira do Amazonas com
o Acre, uma das áreas mais intocadas da Amazônia. No
início, o fazendeiro novato até tentou fazer dinheiro com
gado, mas a falta de estradas para escoar a boiada
frustrou os planos.
O investimento de 300.000 reais na compra da fazenda
não empatou por completo por causa de uma decisão
de Stoppe que pareceu maluca para os fazendeiros
vizinhos: ganhar o dinheiro de indústrias poluidoras
dispostas a compensar o carbono jogado por elas na
atmosfera com medidas como preservar árvores
centenárias da Amazônia - o carbono que elas sugam
do ar é o alimento para o crescimento de raízes e
folhas.
Para isso, Stoppe precisou correr atrás de certificações
para provar que, de fato, o barulho de motosserra
nenhuma ecoa por ali. “Gastei perto de 1 milhão de
reais para provar ao mercado minha intenção de manter
a floresta de pé”, diz ele. Com a papelada em dia, no
ano passado Stoppe fechou a primeira venda de
créditos de carbono, como são chamados os títulos
comprados pelas empresas poluidoras para compensar
suas emissões.
Até agora, o negócio já trouxe 18 milhões de reais em
receitas. “Ganhei com carbono muito mais do que eu
ganharia com gado”, diz o “fazendeiro”. “E meus
vizinhos, que achavam que eu estava ‘doido’, agora me
ligam para saber como funciona.”
Ao que tudo indica, os negócios a partir dessa riqueza
ao nosso redor serão cada vez mais comuns - e já
movimentam uma cadeia bilionária. O volume de
negócios de créditos de carbono chegou a 229 bilhões
de euros no ano passado - cinco vezes mais do que em
2017, segundo a consultoria global Refinitiv. É mais de
1 trilhão de reais.
Por trás da euforia nesse setor, resistente até mesmo à
pancada causada pela pandemia na economia global,
está a cotação desse recurso invisível aos olhos. O
preço da tonelada de carbono no mercado regulado
europeu, onde estão 90% das transações do mundo,
vem batendo recorde atrás de recorde: hoje está em 33
euros, três vezes mais do que o valor cobrado em 2018.
Conferir se a 1 tonelada que está sendo comprada é, de