Clipping Banco Central (2021-02-13)

(Antfer) #1

JOÃO GABRIEL DE LIMA - A piada do escorpião e os 'partidos Jay-Z'


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
sábado, 13 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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O eleitor do DEM confia no DEM? A cantora pop
Beyoncé confia no marido, o rapper Jay-Z? "Minhas
suspeitas se multiplicaram depois que você mentiu",
canta Beyoncé ao som de guitarra acústica na música
Resentment. Da mesma maneira, o eleitor do DEM tem
todos os motivos para se sentir ressabiado depois do
racha do partido em praça pública ao longo da semana.


O episódio reflete, de certa forma, o cisma mundial das
direitas - "liberais" de um lado, "populistas" do outro, na
nomenclatura utilizada pelos cientistas políticos. O ex-
presidente da Câmara Rodrigo Maia queria fazer do
DEM um partido de centro direita estilo europeu, como o
Democrata Cristão de Angela Merkel - ideológico e
defensor da democracia. Para isso, afastou-se da
estridência populista do bolsonarismo.


Na eleição para presidente da Câmara, no entanto,
vários deputados do partido votaram em Arthur Lira, o
candidato de Bolsonaro. O eleitor ficou desconcertado:
o DEM, afinal, é oposição ou situação? Em crise de
identidade, o partido rachou. Maia afirmou, em
entrevista ao jornal Valor na segunda-feira, que o
presidente do partido, ACM Neto, não tinha "coluna


vertebral". Na terça-feira, ACM acusou Maia de
"descontrole" e atribuiu o cavalo de pau de vários
deputados de seu Estado, a Bahia, às vicissitudes da
política.

É um jeito, digamos, "pragmático" de ver as coisas -
mas que banaliza o nobre papel dos partidos nas
democracias. Eles são instituições-chave nos regimes
de liberdade. E vêm perdendo credibilidade no mundo
inteiro por mudar de opinião nas barbas do eleitor. É o
caso do DEM, que buscava uma pegada ideológica e
sucumbiu ao fisiologismo - o Estadão revelou quanto
dinheiro foi destinado às bases de cada deputado que
mudou de voto. O partido se portou como na velha
piada do escorpião e do sapo. O escorpião ferroou o
sapo que lhe dava carona para atravessar o rio,
quebrando a promessa de não atacá-lo. Antes que os
dois morressem afogados, o escorpião disse: "Não pude
evitar, é da minha natureza".

Maria Díez-Garrido, doutora em comunicação política
pela Universidade de Valladolid e personagem do
minipodcast da semana, estuda partidos políticos e o
que eles podem fazer para recuperar a credibilidade.
Uma das palavras-chave é transparência - não ceder à
"natureza" entre mãos-bobas no escurinho do
Parlamento. Além de transparência - de ideias e
financiamento -, Díez-Garrido propõe a criação de
ferramentas que facilitem a participação dos eleitores e
a construção de propostas junto com os cidadãos e com
a sociedade civil.

Um estudo ainda inédito, apresentado por Díez-Garrido
em seminário na Universidade de Lisboa, avalia parti-
dos da Península Ibérica segundo esses critérios. Na
Espanha o vencedor foi o PSOE, de centro esquerda.
Em Portugal, apenas uma sigla foi "aprovada" com
média superior a 50 pontos: o PSD, uma centro direita
ideológica - parecida com o que o DEM se esforçava
para ser.

O título do trabalho - "Da opacidade à abertura: a
jornada necessária dos partidos políticos" - sugere que
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