Clipping Banco Central (2021-02-13)

(Antfer) #1

Pátria mal amada, pátria maltratada


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
sábado, 13 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Antonio Cláudio Mariz de Oliveira


Nelson Rodrigues disse que somos “narcisos ao
inverso” e temos complexo de “vira-lata”. Ele nos
comparou a essa espécie de cão possivelmente porque
cia não constitui uma raça, tal como o povo brasileiro,
que é a junção de várias raças, não provem de uma
única.


Quanto à mitologia de Narciso, posta ao inverso,
significa que não apreciamos a nossa figura quando
refletida nas águas ou no espelho. Ao contrário de
Narciso, não nos aceitamos e chegamos a nos rejeitar.


Na base dessas duas afirmações há duas realidades:
não sabemos, ainda, com precisão quem somos e como
somos, assim como nos acompanha historicamente um
sentimento de autodepreciação. O desconhecimento
leva muitos segmentos a serem carentes de autoestima,
autoconsideração, apego ao nosso modo de ser e
ignorância quanto às nossas qualidades. A não
aceitação, por parte das elites, da multiplicidade de


raças, o racismo, a desigualdade e a discriminação
sociais, as carências no campo da educação e da
cultura, entre outros fatores, têm impedido um mergulho
profundo nas nossas raízes.

Houve um esforço da parte de intelectuais para nos
decifrar. Sérgio Buarquc de Holanda, Caio Prado Júnior,
Celso Furtado, Raymundo Faoro, Gilberto Freire e
outros empreenderam estudos nesse sentido, mas não
foram acompanhados pela elite, que jamais se
preocupou com a própria origem, mas sim com a que
gostaria de ter tido.

Uma das questões que mais intrigam os estudiosos da
sociedade brasileira é o chamado “fenômeno patológico
da psicologia brasileira”, representativo da nossa
tendência a adotar padrões culturais e estéticos de
outros povos. E até uma tendência clara a sair do País e
viver em outras plagas.

Em sua obra O Elogio do Vira-Lata e Outros Ensaios,
obra indispensável para uma avaliação realista e
desprovida de preconceitos do nosso povo, e
especialmente de suas potencialidades, Eduardo
Giannetti analisa as origens dessa crônica visão
depreciativa que a sociedade brasileira tem de si
mesma, accntuadamente parte das elites. Extrai-se
dessa obra que estamos aptos a solucionar problemas,
a superar obstáculos em razão de nossa criatividade,
inteligência criativa, facilidade de percepção e outros
dons, que poderíam estar sendo utilizados para a
supressão de nossas carências e o aprimoramento da
sociedade, em vez de copiarmos modelos e soluções
que não se amoldam a nós.

A analogia, para Giannetti, ao contrário do dramaturgo,
se justifica porque no seu mundo o vira-lata é dotado
também de grande habilidadepara ultrapassar
dificuldade e sobreviver, tal como nós. O autor mostra
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