A babel do auxílio
Banco Central do BrasilFolha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sábado, 13 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemNão é tranquilizador o rumo das negociações em torno
da prorrogação do auxílio emergencial. Na falta de uma
liderança capaz de conciliar as preocupações social e
orçamentária, o imediatismo político pode prevalecer no
debate.
0 governo Jair Bolsonaro, como de costume, não dispõe
de unidade de pensamento e ação. O Ministério da
Economia - que há poucos meses apresentou a
proposta correta, mas vetada pelo presidente, de utilizar
recursos de programas menos eficientes - parece fazer
hoje somente uma tentativa de redução de danos
fiscais.
O protagonismo vai sendo assumido pelos novos
presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-
AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG),
interessados basicamente na sustentação do Planalto e
de sua base parlamentar.
Nesta sexta-feira (12), ao menos, Pacheco anunciou um
entendimento para o pagamento do benefício nos
meses de março, abril, maio e, talvez, junho, com a
contrapartida de medidas que permitam cortes
emergenciais de despesas, em particular com pessoal.Trata-se de algum avanço, dado que nos dias anteriores
o senador falara em conceder o benefício sem nenhuma
compensação de gastos, em meio a um impasse com a
área econômica do Executivo.Entretanto o arranjo soa ainda precário. Não se
conhecem os valores - fala-se em R$ 200 ou R$ 250
mensais - nem as regras de acesso ao auxílio; muito
menos se sabe qual será a disposição do Congresso
para ajustes posteriores.A melhor alternativa seria incluir a discussão no exame
do Orçamento deste ano, ainda pendente de forma
vexatória no Congresso. Assim se poderiam fazer
escolhas que permitissem os pagamentos com os
recursos disponíveis.É falacioso o argumento de que tal caminho seria
politicamente inviável. Boa parte das dificuldades reside
tão somente na conveniência dos parlamentares; nada
impede, por exemplo, que eles usem suas emendas à
peça orçamentária para viabilizar uma expansão das
transferências a famílias pobres.Perdeu-se, ademais, uma oportunidade de avaliar
aperfeiçoamentos permanentes nos programas sociais,
que se mostrariam possíveis em um debate mais
fundamentado e menos açodado.Em sua primeira versão, o auxílio emergencial teve
papel essencial na proteção de vulneráveis e na
recuperação da economia, mas a um custo exorbitante
de R$ 322 bilhões - dinheiro que chegou a muitos que
dele não precisavam.Não se cogita nada semelhante agora, decerto, mas as
finanças públicas já se encontram em estado de grave
deterioração. Demonstrações de irresponsabilidade
daqui em diante têm o potencial de provocar danos
sociais mais graves do que os que ora se buscam
mitigar.