Clipping Banco Central (2021-02-13)

(Antfer) #1

O papel de Fux


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sábado, 13 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Um dos muitos problemas que assombram o Supremo
Tribunal Federal, como já se disse aqui, é o da
insularidade. Em vez de funcionar como um colegiado, a
corte opera como um arquipélago, em que cada um dos
11 ministros atua como uma ilha independente, sem a
devida atenção ao que ocorre com a instituição máxima
do Judiciário.


As principais armas dos magistrados são as liminares
monocráticas, que lhes permitem decidir de forma
individual, ainda que provisoriamente, sobre casos
sorteados para seus gabinetes, e os pedidos de vistas,
que lhes possibilitam paralisar ações que tenham
chegado ao plenário ou às turmas.


Nesse contexto, é meritória a proposta do presidente do
STF, Luiz Fux, de tentar, em suas palavras,
reinstitucionalizar a corte, por meio de alteração no
regimento para que todas as liminares monocráticas
sejam automaticamente submetidas ao plenário.


A ideia não é em princípio rejeitada pelos pares - a
maioria j á percebeu que a insularidade não é opção
sustentável. Isso não significa, porém, que eles não


cobrarão um pedágio para que a medida seja aprovada
e se torne a marca da atual presidência.

Parte dos ministros exige, para apoiar a providência,
que todas as liminares em vigência sejam analisadas
em plenário no prazo de seis meses, o que certamente
faz sentido para os objetivos em tela.

Fux hesita, contudo, porque tal acordo obrigaria a levar
a plenário sua liminar que sustou a adoção do juiz das
garantias - um tema que cinde acrimoniosamente a
chamada brigada lava-jatista da corte, da qual ele faz
parte, da autoproclamada ala garantista, liderada por
Gilmar Mendes.

No que diz respeito ao juiz das garantias, esta Folha
considera que a posição de Fux é a mais sensata. Não
se faz uma alteração desse porte no sistema de Justiça
criminal de afogadilho. No mínimo, seriam necessários
um prazo e um plano de implementação.

Mas, se a ideia é restaurar o princípio da colegialidade
no STF, a primeira coisa que todos os ministros
precisam fazer é desapegarem-se de seus casos de
estimação e aceitarem que são as maiorias que definem
as votações, abrindo mão do arsenal de manobras para
que suas posições pessoais prevaleçam.

Sem a mudança de atitude, alterações no regimento
serão apenas letras num pedaço de papel.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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