Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

Estratégia latino-americana de Biden relega Brasil a segundo plano


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Carta de senador democrata revela a desconfiança do
novo governo americano em relação ao Brasil


Jair Bolsonaro alimentou teorias da conspiração sobre a
derrota de Donald Trump, demorou a dar parabéns a
Joe Biden pela vitória e até agora nem falou com ele ao
telefone. Uma conversa na semana passada entre o
chanceler Ernesto Araújo e o secretário de Estado
americano, Antony Blinken, parecia ter dado um
primeiro passo para a reaproximação. Foi, nas palavras
de Araújo, "100% produtiva". Blinken chegou a convidar
Bolsonaro para a cúpula sobre mudanças climáticas em
abril.


Nem 24 horas depois, porém, uma carta dirigida a
Bolsonaro pelo democrata Robert Menendez, presidente
da Comissão de Relações Exteriores do Senado, tratou
de deixar claro que a visão dos americanos sobre o
governo Bolsonaro não mudou. Menendez criticou o
apoio de Araújo a "teorias da conspiração furadas e aos
terroristas domésticos" que atacaram o Capitólio.


"O ministro Araújo está priorizando a relação do governo
brasileiro com uma facção radical do espectro político


americano", escreveu. Seus comentários, disse
Menendez, "não são dignos de um aliado; são um erro
estratégico que pode ter implicações para nossa relação
diplomática no futuro". Menendez não poderia ter sido
mais claro: ou bem o governo brasileiro aceita a
realidade, ou então sofrerá consequências.

Ninguém deve criar ilusões. Biden representa uma
reviravolta na política de seu país para a América
Latina. Conhece bem a região, para onde viajou 16
vezes como vice, e já se lançou a uma ofensiva
diplomática em que o Brasil não é prioridade.

Em contraste com o estilo confrontador de Trump, quer,
antes de mais nada, reconquistar a confiança dos
países da América Central de onde partem os principais
movimentos migratórios rumo aos Estados Unidos. Ao
contrário do que Trump pretendia, fala em ampliar a
ajuda a esses países a até US$ 4 bilhões. Também
almeja resgatar a relação com o México e mudar a
abordagem em relação às ditaduras de Cuba e da
Venezuela. Seu principal objetivo será conter o avanço
chinês pelo continente, que cresceu em virtude da
omissão de Trump.

A relevância brasileira em toda essa agenda é diminuta.
O único ponto em que poderíamos exercer alguma
influência seria no resgate da democracia na
Venezuela. Mas Bolsonaro e Araújo deixaram que o
Brasil fosse usado na operação desastrada promovida
pelos Estados Unidos para tentar derrubar o ditador
Nicolás Maduro. Resultado: nossa diplomacia perdeu o
status de neutralidade que a transformaria em mediador
da saída de Maduro e ampliaria a influência brasileira na
região.

Biden deverá exercer pressão sobre o Brasil em dois
pilares de sua política externa, nos quais Bolsonaro
demonstra desempenho sofrível: direitos humanos e
meio ambiente. Líder natural e histórico na região, o
Brasil está hoje isolado, sem capacidade de atuar nem
como coadjuvante nas grandes questões. Estamos no
fim da lista de prioridades, e a confiança das novas
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