VERA MAGALHÃES - Entubados, mas armados
Banco Central do BrasilO Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAutor: VERA MAGALHÃES
Se depender de Jair Bolsonaro, o número de mortes
pela Covid-19 passará em breve dos 300 mil brasileiros,
sem que haja uma palavra de compaixão,
reconhecimento da tragédia ou das múltiplas ações e
omissões propositais que nos levaram ai sso. O
presidente não está nem aí, já se cansou de dizer.
Para este homem, este presidente incidental e
lamentável, pouco importa que as UTIs colapsem com
gente entubada em uma, duas, três ondas sucessivas e
contínuas da pandemia, desde que ele passe com sua
boiada de desmonte das políticas civilizatórias. Para
isso, quanto menos gente estiver olhando, melhor.
Se for na calada da noite de um não carnaval ermo,
sombrio, melancólico, em que as pessoas lamentam a
alegria suprimida com as vidas das pessoas amadas,
perfeito.
Para o presidente da República do Brasil, o "povo tá
vibrando". Bolsonaro conhece tanto de povo quanto de
cloroquina: absolutamente nada. Sua noção de povo se
limita a olhar gráficos de popularidade em pesquisas e,
quando eles caem, se preocupar com o próprio
pescoço.E quando isso acontece, que ele se lembra de chamar
algum auxiliar e ordenar uma medida que arrefeça a
indisposição com seu governo, coalhado de ministros
tão ineptos quanto o chefe, que só por isso estão onde
estão.Quem seria Gilson Machado em qualquer outra época
que não fosse o governo Bolsonaro? Nem para tocar
sanfona como calouro num daqueles programas dos
anos 1980 serviria. Seria gongado por Aracy de
Almeida. Sem o escrutínio daquele baluarte do bom
gosto musical, somos obrigados a ouvi-lo não apenas
tocar desajeitadamente o instrumento, como fazer
perorações absurdas acerca de um suposto "castigo
divino" que teria se abatido sobre nós pelos pecados do
carnaval e teria resultado nas mortes por Covid-19.Tal pessoa, saída de algum desvão da História onde
deveria ter permanecido, é ministro do Turismo! Motivo
de um indisfarçado orgulho de um presidente que se
jacta de ser cercado de fracassados e ressentidos - com
cada vez mais raras exceções que, se não se tocarem
de onde estão enfiadas, vão virar a regra.Depois de boicotar de todas as formas que conseguiu a
vacinação dos brasileiros e comprar, fabricar e enfiar
goela abaixo de doentes incautos um medicamento
sabidamente ineficaz, Bolsonaro parece encantado com
a possibilidade de a Covid-19 sumir com um spray
nasal.A droga, em fase inicial de testes, é desenvolvida por
Israel, o que faz com que o presidente a considere
"ideologicamente correta". Surtiu efeito em, vejam só,
29 pessoas! Uau!Mas onde estão as vacinas, presidente? Por que seu
ministro-general da Saúde, que o senhor disse ser
especialista em logística quando demitiu dois médicos,