Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

ZEINA LATIF - E o que temos para hoje


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Economia
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

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O comportamento do dólar tem incomodado o mercado
financeiro, por estar muito descolado das moedas de
países parecidos. A taxa de câmbio oscila ao redor de
R$ 5,40/US$, enquanto modelos de projeção do câmbio
apontam para aproximadamente R$ 4,20 atualmente.
Esse hiato não será eliminado tão cedo.


É verdade que os modelos de projeção têm grandes
limitações, pois a taxa de câmbio não é um preço
qualquer da economia, mas também de um ativo
financeiro, sensível a expectativas e percepção de risco
de investidores, que não são diretamente mensuráveis.
Mesmo assim, a expressiva distância entre as cotações
atuais e o projetado, poucas vezes vista, sinaliza um
novo fator de risco doméstico não captado pelos
modelos. Algo similar ocorreu no início do governo
Temer, mas no sentido contrário: cotações muito abaixo
do projetado, em função da expectativa de reforma da
Previdência, um tabu na época. O escândalo político
esvaiu o descolamento.


Via de regra, fatores externos associados ao ciclo
mundial (dólar contra uma cesta ampla de moedas,
preços de commodities, apetite global para risco) têm


maior importância para explicar o comportamento do
dólar e deveríam estar puxando a cotação para baixo,
assim como o fazem em outras economias emergentes.
Porém, fatores domésticos associados ao risco de ter
recursos no Brasil estão pesando mais.

O novo fator de risco decorre de um duplo efeito da
pandemia. Primeiro, uma inevitável correção de
expectativas do mercado, excessivamente empolgado
com o governo até então. A crise evidenciou a baixa
qualidade da gestão governamental e a reduzida
disposição de enfrentar problemas estruturais, apesar
de crises poderem ser janela de oportunidade para
reformas.

O segundo ponto é que o Brasil sairá estruturalmente
mais fraco da longa pandemia. O potencial de
crescimento será provavelmente menor, pois há baixo
investimento nas empresas, e a mão de obra estará
ainda mais despreparada, diante de desemprego
prolongado e avanço digital. E o quadro fiscal se
agravou. O corolário é que aumentou a urgência de
reformas.

Não convém tomar a aprovação da autonomia do BC
como um sinal de que medidas importantes virão na
sequência. Foi apenas um gesto da Câmara sob nova
presidência, com um tema menos polêmico e com
concessões em demasia para vencer resistências da
oposição. A cada etapa, o jogo recomeça. A base do
governo não é sólida, e tampouco a agenda de
reformas.

A dinâmica da dívida pública é suficientemente
preocupante, pois seguirá em alta por muitos anos,
incluindo o próximo mandato presidencial, mesmo
cumprida a regra do teto. Mas ela não revela de forma
precisa os riscos fiscais a serem enfrentados,
especialmente com crescimento medíocre - as
projeções do PIB em tomo de 2,5% nos próximos anos
parecem otimistas. Além de prejudicar a arrecadação, a
economia fraca pressiona os gastos sociais, eleva o
risco de inadimplência nas linhas de crédito com
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