Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

Um tiro no escuro


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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É compreensível que o presidente Jair Bolsonaro queira
agradar parcela de seu eleitorado editando decretos que
ampliam o porte e a posse de armas de fogo no Brasil.
Era uma promessa de campanha. Nada mais natural
que busque meios de cumpri-la - mesmo que esteja na
contramão das necessidades mais urgentes do país,
que são vacina, emprego e educação. O que o
presidente não pode é dar um tiro no escuro, atropelar
as leis do país com canetadas que terão um efeito
desastroso a médio e longo prazo.


Nesse sentido, foi certeiro o 1º vice-presidente da
Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), ao criticar as
medidas de Bolsonaro: "Mais grave que o conteúdo dos
decretos relacionados a armas editados pelo presidente
é o fato de ele exacerbar o seu poder regulamentar e
adentrar numa competência que é exclusiva do Poder
Legislativo", escreveu o deputado em sua conta no
Twitter.Já o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) -
que se elegeu com o apoio escancarado do Planalto -
entende de maneira diferente, acha que Bolsonaro não
invadiu competências nem extrapolou limites, apenas
modificou decretos já existentes. Em outras palavras,
isso significa que dificilmente será aprovado na Câmara


algum projeto de decreto legislativo que anule as
medidas tomadas pelo chefe do Executivo. Resumindo:
a polêmica vai acabar mesmo no Supremo Tribunal
Federal.

O fato é que a discussão sobre flexibilização de armas
de fogo neste momento é sem cabimento. A quem
interessa ampliar o número de armas num país marcado
por uma epidemia de mortes violentas? Quem, além dos
fabricantes de armas, vai se beneficiar com esses
decretos? Bolsonaro diz que "o povo está vibrando" com
as medidas. Mas é de se perguntar: que povão é esse?
Um revólver custa, por baixo, de R$ 3 mil a R$ 4 mil.
Que assalariado tem dinheiro para comprar?

O governo deveria estar totalmente voltado para
resolver o problema número 1 do país, que é a falta de
vacinas para imunizar a população. Sem vacinação em
massa, os casos de covid-19 se multiplicam, a
economia não anda, os trabalhadores ficam sem
emprego, as empresas fecham e o governo não
arrecada.

Enquanto no Brasil se perde tempo com decretos sobre
armas, os números da pandemia só aumentam. No
caminho contrário, vacinação e medidas para deter o
avanço do coronavírus parecem fazer efeito em outros
países, onde os gráficos mostram uma queda de casos
e mortes. Bolsonaro quer mais armas; o Brasil precisa
de mais vacinas.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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