Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

ALDO PAVIANI - Brasília e a natureza


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: » ALDO PAVIANI Geógrafo, Professor Emérito,
docente e pesquisador do Departamento de
Geografia/IH,


Desde o período imperial, havia quem pensasse que o
Brasil poderia transferir a capital para o interior e, com
isso, o povoamento ocuparia terras dos sertões do
Centro-Oeste. Essa ideia geopolítica foi desejada por
Joaquim José da Silva Xavier -- o Tiradentes -- José
Bonifácio, Hipólito José da Costa e muitos outros,
políticos, deputados e senadores. Na República, a ideia
da transferência da capital para o interior persistiu.
Inclusive um artigo foi inserido na Constituição de 1891
e tinha como propósito tornar viável a mudança da
capital.


Os presidentes da República deveriam tomar iniciativas
para efetivar a transferência, obedecendo a leis
constitucionais. Ainda no Império, foram contratados
cientistas, comandados pelo belga Louis Ferdinand
Cruls, para realizar estudos indicativos de um sítio no
interior com condições ambientais favoráveis para
abrigar a futura capital do país. No relatório de Cruls, há
ênfase nos aspectos climáticos, hidrológicos e


botânicos, pondo em destaque o ambiente natural -- a
pedra de toque na fundação da capital.

Feita a transferência e inaugurada Brasília em 21 de
abril de 1960, a base da capital foi implantada no Plano
Piloto do genial arquiteto/urbanista Lucio Costa, para
quem a capital deveria ser bem arborizada. Assim, a
cidade nasceu com o propósito de manter o verde.
Brasília emergiu com este objetivo, apesar de abertura
de vias, implantação de superquadras, da Esplanada
dos Ministérios e construção de prédios ter eliminado
parte da vegetação original do bioma Cerrado do Distrito
Federal.A agressão ao ambiente inteiro só não foi maior
porque foi criada a Novacap, que, além de cuidar de
parques e jardins, se encarregou de plantar árvores aos
milhares, o que é mantido nos dias correntes. Diga-se
que nem sempre foram árvores próprias do ambiente
natural, mas exóticas, que são visíveis na paisagem de
Brasília.

Abro parênteses para enfatizar que o viço da vegetação
existente é quebrado, em alguns pontos, por ações que
deveriam ser mais monitoradas: o corte de árvores --
muitas vezes sem a devida aprovação das autoridades -


  • e a poda radical que mais lembra mutilações
    aberrantes, não planejadas. Por isto, cabe a pergunta:
    há necessidade comprovada de podas radicais? Pode o
    corte de árvores ter base em laudos técnicos que
    comprovem sua absoluta necessidade? Os órgãos
    competentes deram o seu aval para cortes e podas?
    Sabem os autores de podas e cortes que as árvores são
    vitais para a manutenção de nascentes, que por sua vez
    são responsáveis pela água que chega às nossas
    residências? Sabem também que o oxigênio que
    respiramos é fabricado em parte pelas árvores que nos
    cercam?


Uma campanha para a preservação dos biomas
amazônico, do Pantanal e do Cerrado deve começar, a
partir da introdução de temas ambientais nos currículos
de todos os patamares educacionais. Distribuir livros
que enaltecem a natureza e as áreas com cobertura
vegetal, com destaque para territórios em que as matas
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