Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

Severino Francisco - Sopro de alegria


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Cidades
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: por Severino Francisco >>
[email protected]


Mesmo que não houvesse pandemia, eu estaria
confinado nesta época do ano. Nos tempos de
adolescente, eu achava que violência era coragem;
mas, hoje, vejo que violência é covardia. E isto me
afastou do carnaval. Mas, apesar disso, sou um pierrô
atípico: eu gosto de música carnavalesca. Quando
ouço, sinto um sopro de alegria, de energia, de
inteligência e de humor.


Na época da folia, os poderosos de plantão tremiam nas
bases porque a revanche de humor seria implacável. A
última manifestação musical neste sentido de que me
lembro foi a marchinha O mosquito, do maestro Jorge
Antunes, que espicaçava o então presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, acusado de
negociações nebulosas, no ápice da epidemia de
chikungunya: "A chikungunya está deixando o povo
aflito/Eu xingo o Cunha/Eu xingo o Cunha de mosquito".


Na segunda parte, Jorge Antunes flagrava Cunha em
fuga, mas fechava o cerco em outra esquina: "Ele tá


fugindo da Justiça/Mas sei que ele está frito/Pois tem
conta na Suíça/Ai ai ai/O mosquito é bandido/Ai, ai, ai o
Cunha tá fugido".

Sinto falta de marchinhas com essa verve carnavalesca.
Temos memes espirituosos, mas eles se perdem na
nuvem do ciberespaço sem se transformar em música.
No entanto, com honrosas exceções, a música
empobreceu. Durante várias décadas, a axé music
funcionou como a monocultura da soja, arrasando a
biodiversidade sonora.

Existem sinais de alento com a retomada da folia dos
blocos de rua nos últimos anos no Brasil e em Brasília.
No entanto, tenho a impressão de que ainda não
produziu uma música inventiva e que renove as
tradições. O que música sertaneja tem a ver com
carnaval?

Não saio em nenhum bloco, mas se saísse seria no Vai
quem fica, no Tesourinha (nem sei se existem mais) ou
no Divinas Tetas, que toca um repertório de primeira
linha da tropicália. Não fui e gostei. A música de
carnaval se realimenta e se renova na tradição.

Alê Gonçalves, um mineiro, e Celso Araújo, um
maranhense, se encontraram em Brasília para celebrar
e para fazer uma releitura do frevo, um ritmo eletrizante
de pernambuco, mesmo quando não utiliza
instrumentos elétricos. Dançar ou mesmo ouvir frevo é
como se conectar em uma tomada elétrica de alegria.

Eles lançaram nas plataformas digitais o EP Toquem o
frevo mais alto, com quatro canções, em que celebram,
a um só tempo, o ritmo frenético e personagens
essenciais da cultura pernambucana. Tudo retemperado
com pitadas de rock, de jazz e de vários gêneros da
música popular brasileira.

A dança das palavras do poeta Manuel Bandeira cai no
frevo: "Manuel Bandeira dança só quando escreve/A
chuva cai e molha a cama dos tais/Quando ficar triste
desse jeito/Bota a estrela no peito/e sua estrela vai te
Free download pdf