Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Déficit

Déficit. Para entender a estranheza, suponha que um
governo consiga manter a dívida estável em 60% do
PIB, com déficit de 3%, antes do pagamento de juros.
Depois, suponha que ocorra uma pandemia, elevando a
dívida para 80% do PIB. Você pode pensar que seria
mais difícil sustentar essa dívida maior, exigindo um
orçamento mais apertado que do pré-pandemia. Mas
estaria errado. Para estabilizar a nova proporção da
dívida, o governo só precisa de um déficit de 4%.


Embora essa matemática fiscal seja peculiar, ela não é
nova. A taxa de juros corrigida pelo crescimento vem
sendo inferior a zero nas economias emergentes 75%
do tempo, de acordo com Paolo Mauro e Jing Zhou, do
FMI, que analisaram os anos até onde os dados
permitem. Os economistas, porém, têm receio de
interpretar a aritmética de maneira muito literal. As
economias emergentes costumam tomar empréstimos
em moedas fortes, como o dólar. Se sua taxa de câmbio
enfraquece, as dívidas em moeda estrangeira podem
aumentar acentuadamente em relação ao tamanho de
suas economias, mesmo que as taxas de juros
permaneçam modestas. O custo do empréstimo
também pode aumentar rapidamente se os investidores
temerem o calote - temor que pode se tornar
autorrealizável. E o aumento nas taxas de juros pode
não ser suave ou precoce o suficiente para fornecer
algum aviso prévio.


Nas últimas décadas, as economias emergentes
acharam mais fácil tomar empréstimos nas próprias
moedas, o que deixa a dívida mais segura porque seus
bancos centrais, em tese, podem imprimir o dinheiro
devido, se necessário.


Mesmo quando a dívida do governo é sustentável, ela
pode não ser desejável. Os economistas temem que
empréstimos públicos possam impedir o investimento
privado (ou prejudicar a balança comercial). A situação
é menos preocupante quando o governo gasta com
investimentos ou quando a economia está operando
abaixo da capacidade: os gastos públicos podem,
então, "atrair" investimentos adicionais melhorando as
receitas e perspectivas de lucro.


Antes de embarcar em uma onda de gastos, um
governo consciencioso deve ter outras considerações. A
economia está abaixo da capacidade devido à falta de
gastos (e não às restrições de saúde pública)? As
expectativas de inflação estão contidas? A flexibilização
monetária está com dificuldade para reavivar a
demanda? Se sim, podem gastar com maior convicção.
Mas as respostas variam no mundo emergente. A China
provavelmente está perto de sua capacidade total. A
inflação está muito alta na Argentina e na Turquia. A
maioria dos bancos centrais tem espaço para cortar as
taxas de juros.

Blanchard acha que os formuladores de políticas nos
mundos rico e pobre deveriam se fazer duas perguntas
difíceis: até que ponto as taxas de juros poderiam subir,
em relação às taxas de crescimento, em um plausível
caso de estresse? E quão apertado seria um orçamento
politicamente possível para reagir à situação? As
respostas fornecem uma indicação aproximada do
índice de endividamento que um país pode sustentar
com algum conforto.

Esse índice provavelmente será menor para muitas
economias emergentes que para as avançadas. As
economias emergentes podem ter mais dificuldade de
aumentar a receita fiscal em uma emergência. E suas
taxas de juros têm um pico possível mais alto, mesmo
que a média seja menor depois de deduzido o
crescimento. No passado, a sabedoria convencional
dizia que o limite seguro para a dívida era de 60% do
PIB para as economias avançadas e 40% para as
emergentes. "Eram números absurdos", disse
Blanchard após sua palestra. "Mas a discrepância
estava certa". / TRADUÇÃO RENATO
PRELORENTZOU ]

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Déficit, Banco Central - Perfil 1 - FMI
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