Antes tarde que mais tarde
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAutor: Carlos Melo
Edson Fachin reagiu com justificada indignação: na
democracia, a Constituição é soberana e as instituições
a ela se submetem. O livro do ex-comandante do
Exército Eduardo Villas Bôas traz, assim, uma
aberração: generais não dizem a juízes ou a ministros
do Supremo o que fazer; nem o que admitem ou não.
Fachin está certo. Mas, com três anos de atraso, cabe
perguntar: o relator da Lava Jato se indignou com a
revelação de um Segredo de Polichinelo ou com seu
conteúdo?
A história é conhecida e as memórias do general não
trazem novidade: no Brasil, o temor da sombra militar,
infelizmente, nunca se dissipou; continua influenciando,
se não submetendo, a política e as instituições.
Ingenuidade, talvez, tenha sido crer que o País havia
superado seu fantasma. A surpresa não mora no tuíte
do general, nem na consulta que fez a seus pares. Mas
na reação retardada de agentes institucionais que
somente agora se manifestam. Não se sabe se o
silêncio de então se deveu à distração, à conivência ou
à omissão. Fachin não foi o único.
Também o presidente da República à época.
Constitucionalista e comandante em chefe das Forças
Armadas, Michel Temer, no esplendor de seu cargo,
igualmente fez ouvidos de mercador. Villas Bôas era
subordinado; imperativo que Temer fizesse valer o
poder civil. Calou. "O que querias que fizesse, 'se
sabias que não era Deus, se sabias que eu era fraco?",
replicaria o poeta. Circunstâncias produzem
presidentes, nem sempre conseguem parir líderes.
Instituições não prescindem de lideranças.Passados três anos, o fato é que, de omissão em
omissão, o País se enredou numa trajetória ruinosa, que
debilita sua democracia. A despeito de o atual
comandante do Exército, Edson Pujol, diferenciar-se do
antecessor ao se manter discreto - como deve ser -, o
fato é que a influência militar se expandiu errática por
todo o governo, comprometendo até mesmo as Forças
Armadas. A reação de Fachin parece tardia. Em todo
caso, antes tarde que mais tarde.CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER.Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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