O acordo Mercosul-UE em ponto morto
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAo comentar um estudo de impacto dos acordos
comerciais negociados pela União europeia (UE), Valdis
Dombrovskis, chefe de comércio do bloco, declarou, a
respeito da última versão do acordo com o Mercosul,
que a Europa encontrou "o justo equilíbrio entre oferecer
mais possibilidades de exportação para os produtores
europeus, protegendo-os ao mesmo tempo de efeitos
potencialmente nefastos do aumento de importações".
Em contraste, na mesma semana, o ministro do
Comércio Exterior francês, Franck Riester, em sessão
do Fórum Econômico Mundial, disparou: "O aumento do
comércio poderia criar mais desmatamento". Tais
episódios reforçam a percepção de que o acordo está
bem ajustado do ponto de vista comercial e sua
ratificação depende apenas de um concerto político
centrado na questão ambiental.
Entre os 12 acordos examinaestudo de impacto dos
acordos comerciais negociados pela União Europeia
(UE), dos pelo estudo, o do Mercosul responderia por
53% das compras agrícolas. No total das importações,
estima-se que em 2030 o Mercosul seria responsável
por 19% das compras - fatia menor que a de 24,5%,
calculada em 2016. Em conclusão, a Comissão
Europeia apontou que o acordo é positivo para a
economia e o agronegócio europeu.Apesar disso, as pressões contra a ratificação não
devem arrefecer. As hostilidades da França são
previsíveis. Recentemente, o presidente Emmanuel
Macron associou de maneira desinformada e caluniosa
o cultivo da soja brasileira ao desmate na Amazônia. É
notório - e já foi apontado por muitas autoridades
europeias - que a resistência de Macron ao acordo visa
a agradar a um tempo o eleitorado ambientalista e o
lobby protecionista dos agricultores franceses. Mas o
mais preocupante é que, mesmo entre possíveis aliados
no bloco europeu, as atitudes têm oscilado entre a
desconfiança e o desinteresse.No último semestre, o Brasil e seus parceiros no
Mercosul já perderam a oportunidade de negociar com
uma liderança pragmática como Angela Merkel,
enquanto a Alemanha esteve na presidência rotativa da
União Europeia. Merkel acabou por colocar o Mercosul
em segundo plano, priorizando um acordo de
investimentos com a China. Se em parte isso se deve
aos interesses alemães no comércio com a China,
também revela a apatia das autoridades do Mercosul.No início do ano, Portugal assumiu a presidência da UE.
Com outras oito nações, o país é um dos signatários de
uma carta à Comissão de Comércio europeia,
argumentando que a não ratificação do acordo não
apenas pioraria a questão ambiental, como afetaria a
credibilidade do bloco e o fragilizaria em relação a
outros competidores internacionais.Ainda assim, num documento de 37 páginas
apresentando seu programa de governo perante a UE,
Portugal citou a índia oito vezes; o Mercosul, apenas
duas; e o Brasil, nenhuma. Já está marcada para maio
uma cúpula com o primeiro-ministro indiano, Narendra
Modi, para discutir um acordo de proteção de
investimentos. Com o Brasil não há nada na agenda.A União Europeia está em vias de aprovar um