Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

Um grande passo na OMC


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Mais que promissora, a escolha de uma economista
nigeriana para dirigir a Organização Mundial do
Comércio (OMC) representa um ganho para a ordem
multilateral e, portanto, para a convivência civilizada. É
mais uma derrota para os inimigos do multilateralismo,
como o ex-presidente Donald Trump e seus seguidores,
incluído, até recentemente, o presidente Jair Bolsonaro.
Quando tomar posse, em primeiro de março, Ngozi
Okonjo-Iweala será a primeira mulher e a primeira
personalidade africana a exercer a direção-geral da
OMC, entidade hoje formada por 164 países. Mas a
diretora recém-escolhida se diferencia também, e
principalmente, por outras qualificações.


Com graduação em Harvard e doutorado no MIT, a
economista ocupou a diretoria-geral do Banco Mundial,
segundo posto na hierarquia, depois de 25 anos na
instituição. Foi ministra de Relações Exteriores e duas
vezes ministra das Finanças da Nigéria, participou de
vários grupos e entidades internacionais, foi
copresidente da Comissão Global da Economia e do
Clima e fundou em seu país o Centro de Estudos das
Economias da África.


Oito candidaturas foram retiradas durante os estágios
de seleção, iniciados em setembro. Durante as
consultas conduzidas pelo Conselho Geral, o número de
candidatos foi reduzido a cinco e em seguida a dois. No
fim de outubro o nome da nigeriana tinha apoio quase
to- tal, mas o presidente Donald Trump impediu o
consenso, apoiando o nome da ministra coreana Yoo
Myung-hee. A representante da Coreia acabou
renunciando à disputa. Em seguida, o recém-eleito
presidente Joe Biden anunciou "forte apoio" a Ngozi
Okonjo-Iweala.

A mudança da posição americana envolve muito mais
que a transferência de apoio à candidata escolhida pela
maioria do Conselho Geral. Durante anos, o presidente
Trump tentou usar o peso econômico dos Estados
Unidos para impor sua vontade à OMC. Impediu o pleno
funcionamento do aparelho de solução de controvérsias,
componente essencial do sistema, entravando a
nomeação de juízes para o Ã"rgão de Apelação.

Em dezembro de 2019 o órgão ficou paralisado pela
primeira vez em 22 anos. Com recursos para serem
julgados, o Brasil foi um dos países atingidos pela
interrupção dos trabalhos. Quem perguntasse algo
sobre o assunto ao presidente Jair Bolsonaro ou a seu
ministro de Relações Exteriores perderia tempo ou, pior
que isso, poderia arriscar-se a ouvir algo bolsonariano-
trumpista.

O final da gestão do último diretor-geral, o diplomata
brasileiro Roberto Azevêdo, foi prejudicado pela ação do
governo americano, empenhado em mandar na OMC de
acordo com o populismo nacionalista do presidente
Trump. A ação internacional da Casa Branca foi em
grande parte dominada pela rivalidade com a China.

Também nisso o presidente Bolsonaro obedeceu à
orientação trumpista, seguindo a diplomacia americana
em ação antichinesa, na OMC, em julho do ano
passado. O presidente brasileiro parece haver
esquecido - ou talvez ignorasse? - a importância da
China como maior mercado importador de produtos
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