Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

Elio Gaspari - Bolsonaro desajiou o 'mercado


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

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Autor: Elio Gaspari


Presidente e o vice ensaiam um novo número


Elio Gaspari


Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do
regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada"


Ganha uma fritada de morcego quem souber o que é o
"mercado". Bolsonaro corre atrás do novo auxílio
emergencial que ampara sua popularidade e pipocam
ansiedades desse ectoplasma. Outro dia de ironizou:
"Qualquer negocinho, qualquer boato na imprensa, tá aí
esse mercado nosso, irritadinho, né? (...) Pessoal,
vocês sabem o que é passar fome?". No dia seguinte foi
a vez do vice-presidente, Hamilton Mourão: "Minha
gente, a gente não pode ser escravo do mercado. (...)
Nós temos aí uns 40 milhões de brasileiros que estão
em uma situação difícil".


Toda vez que o capitão usa diminutivos ("gripezinha" no
"finzinho") algo de ruim pode acontecer e ao mencionar
a neurastenia do ectoplasma, ele pode estar indicando


uma nova forma de demagogia. Para quem tem um pé
no irracionalismo da cloroquina e na eleição americana
fraudada, é um prato cheio a ideia de um descontrole
fiscal em nome dos problemas sociais.

Lula cavalgou racionalmente sua plataforma social e
teve em Bolsonaro um crítico. Isso para não se falar no
general Mourão, reclamando da existência do 13º
salário. Opondo-se ao nervosismo da turma do
papelório, Bolsonaro escolhe um adversário fácil para
fazer não se sabe o quê.

Paul Volcker, o grande presidente do banco central
americano, em suas memórias grafou "mercado"entre
aspas. Conhecendo a espécie, ele sabia que nem nos
Estados Unidos o ectoplasma deveria ser levado a
sério. No Brasil, afigura é risível. Em geral vocaliza as
opiniões de consultores ou figuras do segundo escalão
da banca ou da indústria. Na hora do vamos ver, as
guildas do andar de cima gostam mesmo é de ir ao
Planalto para bajular o poder. (Quando não se metem
em lances de privataria das vacinas.) Em tese, o
"mercado" quer o equilíbrio das contas públicas. Na
prática, seus personagens carimbados querem crédito
oficial subsidiado e desconto nos impostos. Em tese,
Bolsonaro e Paulo Guedes tinham um projeto liberal.
Era uma mistura de mamão com jararaca, mas vá lá
que lhe dessem esse nome. Com a pandemia e as
dificuldades econômicas, o governo está sem rumo. A
"gripezinha" mostrou-se um "meteoro" (figura usada por
Guedes) e a única coisa que deu certo em dois anos foi
apronta distribuição do auxílio emergencial.

As falas de Bolsonaro e Mourão indicam uma nova
forma de demagogia. O vice-presidente disse que o
governo não pode ser escravo do mercado. A frase não
quer dizer nada, mas o pelotão palaciano, o general da
Saúde e o almirante da Anvisa resolveram peitar os
fabricantes de vacinas. Bolsonaro reescreveu a lei da
oferta e da procura quando achou que seu governo
tinha braço forte para negociar com os fabricantes. Deu
no que deu, faltam imunizantes e sobra cloroquina.
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