Clipping Banco Central (2021-02-17)

(Antfer) #1

A confusão continua


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Antonio Delfim Netto


O ano começa com um ambiente confuso em torno da
prorrogação do auxílio emergencial. E inegável que a
descontinuação abrupta do programa em meio ao caos
econômico e social produzido pela pandemia justifica a
sua manutenção por mais alguns meses, o que se
reflete na pressão política feita pelos congressistas
sobre o governo. Mas também é verdade que, talvez
pela falta de liderança do Executivo em lidar com um
tema inevitável ao longo dos últimos meses, têm surgido
propostas de adequação duvidosa e outras que
comprometem seriamente o crescimento futuro do país.


Um auxílio que é emergencial e para um período curto e
fixo de tempo não pode ser confundido com a
reformulação, o robustecimento e a criação das
necessárias portas de saída dos programas sociais já
existentes. Este é um tema cheio de detalhes e para o
qual já existem boas propostas, inclusive pelo próprio
governo - embora rejeitada pelo presidente.


A segunda questão é o financiamento do auxílio e o
cuidado para que a solução proposta não crie brechas


para despertar o espírito gastador de políticos míopes.

Antes de tudo, passados quase um ano de vigência do
programa anterior, é factível e necessário que agora
haja maior focalização nos que realmente precisam.
Além disso, à parte os pormenores jurídicos impostos
pelo emaranhado de regras fiscais que hoje vigoram no
país para a operacionalização da forma em que o
programa será executado, não se deve perder de vista a
delicada situação fiscal em que o país se encontra.

É um erro achar que o Brasil pode optar pela expansão
fiscal e pelo aumento do endividamento sem apontar
medidas compensatórias de curto e médio prazo, como
parecem supor alguns deputados e senadores. O
comportamento da taxa de câmbio, na contramão dos
demais emergentes e que tanto tem impactado os
indicadores que lhes são caros, como o preço da
gasolina e dos alimentos, é um indicador eloquente
dessa fragilidade.

A tramitação do Orçamento dá a chance para que ao
menos parte dos recursos sejam designados a partir de
fontes que lá estão. A complementação do montante
total pode e deve vir de medidas de ajuste que já
constavam nas PECs fiscais que estão no Congresso. É
preciso insistir. A reorganização das contas públicas e a
indicação clara de sustentabilidade para a trajetória da
dívida é condição necessária para a saúde
macroeconômica do país.

Para piorar, há os que sugerem que se recorra à saída
mais fácil, feita de maneira reiterada nos últimos 40
anos: financiá-lo pela criação de impostos,
"temporários". Só se for para matar de vez qualquer
esperança de crescimento.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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