26
Licenciado em Engenharia
Biofísica, e com pós-graduação
em Ordenamento do Território.
Lecionou na Universidade de
Évora. Atualmente, dirige o
Centro de Gestão e Inteligência
de Lisboa
permite o acesso a informação relevante. Há também informa-
ção que não pode ser disponibilizada ao público por questões
de segurança ou privacidade. Este tipo de plataforma permite
gerir de acordo com os dados. Já não é a gestão do «epá, acho
que aquilo ali ocorre sempre desta forma».
Depois da atual fase experimental, onde é que a plataforma
vai ser instalada?
Neste momento, a plataforma integra dados da Câmara e de
entidades externas, como a EPAL e a EDP, mas trata-se de uma
plataforma web. Podemos ter todos os serviços da Câmara a
usar esta plataforma. O vereador ou o presidente da Câmara
poderão ter acesso a dashboards com informação que é especí-
fica para eles, enquanto os serviços de espaços verdes poderão
ter acesso a outra informação específica, os serviços de recolha
de resíduos sólidos também... e cada serviço poderá assim ter
acesso a informação que é relevante.
Não vai haver uma sala de operações?
Um dos utilizadores da plataforma é o Centro Operacional
Integrado (COI) que terá uma sala a funcionar aqui no (no
edifício do) Campo Grande. Esse centro operacional inte-
grado fará a gestão em tempo real 24 horas por dia, sete
dias por semana. Estarão presentes na sala de operações
representantes da Proteção Civil, do Regimento de Sapa-
dores de Bombeiros, da Polícia Municipal e dos Serviços
de Mobilidade. Em caso de crise, podem estar presentes
outros serviços.
Que investimento foi feito na plataforma?
Foram investidos 1,2 milhões de euros, acrescidos de IVA.
A plataforma foi criada pela NEC. A este valor têm de ser
somados os investimentos na sala de operações e nos recur-
sos da Câmara para que isto aconteça. Há muitos projetos
que aportam informação à plataforma que também terão os
seus custos... mas essas são iniciativas dos diversos pelouros
da câmara, que se vão desenvolvendo e se vão ligando. Por
exemplo, a georreferenciação dos carros da Polícia Muni-
cipal, ou dos contentores de resíduos sólidos, ou estabele-
cimentos de diversão noturna – toda essa informação, para
ser adquirida e trabalhada, também tem custos.
Há uma previsão de retorno?
O retorno pode ter a ver com a melhoria da qualidade de vida
de quem mora ou trabalha em Lisboa. Por vezes, o retorno não
é quantificável, mas se se traduzir numa melhoria da forma
como os cidadãos usufruem da cidade, já será um sucesso. Os
diferentes serviços camarários também vão poder relacio-
nar-se de forma bem mais eficaz porque vão poder ter acesso
a diferentes fontes de informação. Por exemplo, na recolha
dos resíduos sólidos, é possível planear rotas para recolher os
contentores (vidrões e caixotes do lixo)... mas se esse serviço
só tiver em conta a informação relativa a esses contentores,
então só tem acesso a uma parte da informação. Com uma
ferramenta deste género, que integra diferentes fontes de
informação, o serviço passa a saber que amanhã há um evento
num determinado sítio e, se calhar, é previsível que haja mais
resíduos sólidos numa determinada zona. É uma ferramenta
que permite planear a atividade dos serviços de uma câmara
de uma forma muito mais eficaz. Permite planear os recursos
no terreno de forma bem mais eficaz.
As equipas que estão no terreno também terão acesso à
plataforma?
Sim. É uma plataforma web. A Polícia Municipal tem tablets que
dão acesso à plataforma, para consultar o que está a acontecer
dentro de um estabelecimento de diversão noturna. Também
podemos ter acesso à plataforma através do telemóvel...
...Portanto se a Internet falhar, será o caos!
Talvez para quem esteja no terreno; mas não dependemos da
Internet. Temos dados que vêm através de redes dedicadas que
são geridas pela Câmara. Não podemos ficar pendurados na
Internet, seria um erro crucial para um serviço que alimenta o
COI. Temos redes próprias e a plataforma está instalada no nosso
centro de dados. Se acontecer alguma coisa, temos resiliência
para que o COI possa continuar a funcionar.
Esses dados poderão ser usados para dirimir conflitos?
E será que têm valor legal para resolver esses conflitos?
Essa é uma coisa que ainda não analisámos...
Que novos serviços poderão sair destes dados?
Há coisas que o cidadão vai poder percecionar que me-
lhoraram, devido ao facto de os serviços terem acesso a
esta informação integrada, que antes estava repartida por
silos isolados... mas agora já podem partilhar informação.
O próprio cidadão, quando tiver acesso à app, vai poder ter
informação sobre o que está a acontecer à sua volta e o que
condiciona a sua vida. O cidadão vai poder saber o que está
a acontecer à volta, condicionamentos de trânsito, entre
outras coisas. Queremos disponibilizar essa informação de
forma integrada, para que o cidadão possa ser notificado ou
tenha a informação em mapa sobre o que está a acontecer
de relevante à sua volta. Pode ser um corte de estrada, dados
ambientais... É informação que queremos disponibilizar de
forma transparente... e que queremos colocar na plataforma
e no nosso portal de dados abertos. É um portal que já conta
com mais de 300 conjuntos de dados. Trata-se do Portal Lis-
boa Aberta. São dados a que qualquer pessoa pode aceder. As
startups podem aceder àqueles dados para criarem serviços
e aplicações, sem terem de dizer nada à câmara.
Faria sentido que outros municípios adotassem plataformas
similares?
É um caminho que todos os municípios vão ter de seguir mais
tarde ou mais cedo. É um caminho inevitável.
JOÃO TREMOCEIRO