(20190200-PT) Exame Informática 284

(NONE2021) #1
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N


Na aritmética 1+1 dá sempre 2. Na neurologia, a
lógica é outra: a soma de neurónios não chega para
explicar por que é que uma pessoa que tem menos
células no cérebro consegue executar operações
mais complexas que outra pessoa que tem mais.
Na melhor das hipóteses, a aritmética será útil para
confirmar que, em média, um cérebro humano
tem 86 mil milhões de neurónios. É um número
recorde entre os primatas, mas pouco significa na
comparação entre humanos. Por uma simples ra-
zão: mais importante que o número dos neurónios
é aquilo que se faz com eles.
Tomemos este texto por exemplo: a ligação entre
dois ou mais neurónios poderá dever-se à deteção
de uma gralha nesta frase. Mas também poderia ter
sido motivada pela reação gerada quando o diretor
alerta para o crónico atraso na entrega do texto.
Ou pela fome que prenuncia a hora do almoço. Ou
pelos batimentos cardíacos acelerados sempre que
chega o fecho de edição. O que para a maioria das
pessoas é apenas uma conta de somar, para um
neurocientista é a unidade mais elementar daquilo
a que chamamos, de forma vaga, «pensamentos»,
«sentimentos», «desejos» ou «necessidades». E é
neste ponto que começa a exploração cerebral, com
a ajuda de eletroencefalogramas (EEG), ressonân-
cias magnéticas (MRI) ou neuro-implantes e com-
putadores e algoritmos que relacionam estímulos
elétricos com a atividade das regiões do cérebro.
«Já se consegue prever se uma determinada pes-
soa está a mentir ou a dizer a verdade, ou se está
a ver uma cara ou um objeto, ou até se a cara está
triste ou alegre... mas falta avançar na resolução.
Que cara se está a ver exatamente? Ou... a mentira
foi por medo, vergonha ou inveja? Ou até, qual foi
exatamente a mentira? Este aumento de resolução
será trazido por avanços tecnológicos nos aparelhos
de aquisição de dados cerebrais e nos de computa-
ção», explica Diana Prata, investigadora do Instituto
de Biofísica e Engenharia Biomédica da Faculdade


de Ciências da Universidade de Lisboa (IBEB) e líder
científica da NeuroPsyAI.

INTELIGÊNCIA ELÉTRICA
Depois de ter criado o computador elétrico à seme-
lhança do respetivo cérebro, a humanidade come-
çou a fazer caminho inverso. As duas entidades têm
semelhanças inegáveis: os computadores também
lidam com diferentes tipos de memórias; e tanto
conseguem executar, de forma automática, uma
função que aumenta a refrigeração interna num
dia de calor, como podem lançar uma qualquer
aplicação, na sequência de uma decisão cons-
ciente de um humano, depois de alguns cliques.
Mas a semelhança mais importante nem sempre
é evidente: tanto o computador como o cérebro
só funcionam com atividade elétrica. O que pode
ser determinante para o primeiro decifrar o fun-
cionamento do segundo. Mesmo estando longe de
saber o que cada neurónio faz a cada momento da
sua existência, podemos monitorizar a atividade
elétrica produzida em diferentes frequências que
ajudam a perceber como reage cada região cerebral
num determinado cenário ou face a um estímulo.
No mapeamento do cérebro, os EEG distinguem-
-se por serem mais adequados a registar sinais
elétricos no tempo, enquanto as MRI são mais
indicadas para apurar como atuam a regiões do
cérebro em cada situação – ou perante exercícios
tão simples como aqueles em que se pede que
uma pessoa minta para apurar como reage uma
determinada área responsável pela ansiedade.

DIANA PRATA,
LÍDER CIENTÍFICA
DA NEUROPSYAI,
O PROCESSAMENTO
DE INFORMAÇÃO
CEREBRAL
EXIGE GRANDE
CAPACIDADE
DE COMPUTAÇÃO
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