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da atividade do córtex motor – e o controlo de um
cursor num videojogo simples. «Os resultados da
experiência demonstram que os utilizadores, como
os ratos no estudo anterior, são capazes de aprender
a modular a atividade cortical e aumentam a per-
formance com o treino durante o jogo. O controlo
da atividade neuronal pode depois ser usado como
interface para diferentes tipos de aplicações e poderá
representar um grande potencial na aplicação às
áreas da saúde como treino de neurofeedback»,
acrescenta Nuno Loureiro.
FEEDBACK MAS NÃO TANTO
Apesar do entusiasmo de alguns especialistas, o
neurofeedback ainda revela grande margem de evo-
lução. Por e-mail, Marcelo Mendonça recorda que
«a investigação empírica tem sido heterogénea (os
estudos são geralmente pequenos, com populações
diferentes, com diferentes métodos e paradigmas de
treino e de feedback). O que faz com que seja difícil
oferecer este tipo de terapêuticas de uma forma
suportada por evidência». Mais do que rejeitar o
potencial clínico do neurofeedback, o investigador
do Champalimaud prefere apontar para o potencial
que está por desbravar, à medida que a recolha de
dados evoluir da superfície do cérebro, onde são
captados por headsets com elétrodos, para uma
área mais profunda, com a inclusão dos já referidos
neuro-implantes.
No neurofeedback, as ordens cerebrais são cons-
cientes e explícitas – mas essa capacidade não chega
para satisfazer os cientistas que hoje se dedicam a
fazer o “hack” do cérebro. Até porque há funções
vitais à vida que não dependem da consciência
humana – e o esforço e concentração não chegam
para debelar muitas das patologias. Se assim fos-
se, bastaria um paciente pensar: «não vou ficar
deprimido» – o que está longe de corresponder à
realidade. Pelo que parte da quimera neurológica
ainda está por alcançar: como levar uma máquina
a reagir de forma tão natural como a que leva o
humano a retirar, instintivamente, a mão depois
de tocar numa panela a escaldar?
«Atualmente, o que se procura é dar capacidade
às máquinas para reagirem ao estado de espírito de
uma pessoa de forma implícita. É algo que pode ser
feito através de neuro-próteses que transitem sinais
para outros dispositivos que se encontram fora do
corpo humano. O INESC TEC já começou a trabalhar
nesta área com a Universidade de Carnegie Mellon»,
acrescenta João Paulo Cunha.
POTÊNCIA: 20 WATTS
A vitória de Deep Blue sobre o campeão de xadrez
Garry Kasparov, na década passada, tornou oficial
a supremacia das máquinas quando se trata de fazer
cálculos, mas essa é apenas uma das perspetivas
possíveis para a análise do histórico duelo. Se ti-
vermos em conta que um cérebro humano pesa,
em média, 1,5 quilos, não terá muito mais de 30
centímetros de diâmetro, opera com uma potên-
ONDAS CEREBRAIS
A atividade elétrica dos neurónios é produzida em
diferentes frequências nas várias regiões do cérebro,
podendo indiciar modos de funcionamento – ou patologias.
Ainda não há consenso quanto aos limiares de intervalos.
DELTA
De 0Hz a 3Hz
São as ondas cerebrais do sono profundo e sem sonhos,
ou dos estados de coma. Estão associadas aos períodos
de descanso, em que só as funções básicas se mantêm
em função. Também há quem distinga dentro deste intervalo
ondas “infrabaixas” que ocorrem entre 0 Hz e 0,5 Hz
THETA
De 3 Hz a 8 Hz
São ondas cerebrais associadas
ao sono e na meditação, mas que estarão relacionadas
com os sonhos e a vertente imaginativa dos indivíduos.
ALPHA
De 8 Hz aos 12 Hz
É o típico estado de vigília relaxado, sem obrigações, pressões ou
surpresas – mas que permite tomar uma decisão ou ação a qualquer
momento. São as ondas mais predominantes a partir dos 13 anos
de idade. Curiosidade: tímidos e introvertidos tendem a ter menos
ondas alfa nas várias regiões do cérebro.
BETA
De 12 Hz aos 32 Hz
São as ondas cerebrais associadas à pressão, à concentração ou
à execução de tarefas. Dividem-se em três intervalos: frequências
mais baixas associadas ao trabalho; intermédias à ansiedade; e mais
elevadas à extrema ansiedade.
GAMMA
De 32 Hz a 45 Hz
Frequências alcançadas quando é necessário que várias partes do
cérebro operem de forma concertada com o mesmo propósito. É um
intervalo associado a picos de concentração. Alguns especialistas
acreditam que as pessoas com boa memória registam mais
frequências a 40 Hz – sendo que a escassez destas frequências
poderá significar dificuldade de aprendizagem.