(20190200-PT) Exame Informática 284

(NONE2021) #1
65

A


A Theia precisa apenas de seis dias para apurar alterações
de milímetros no subsolo. A informação de satélite já permitiu
deslindar alguns casos de destruição de sítios arqueológicos
por explorações agrícolas no Alentejo. No Algarve,
a ferramenta também vai monitorizar a orla costeira
Tex t o : Hugo Séneca Fotos: Marcos Borga

O PASSADO


VISTO


DO ESPAÇO


primeira notícia
surgiu em abril
de 2017: uma área
de fossos pré-his-
tóricos, com 18
hectares, e uma
necrópole da ida-
de do Ferro foram destruídos devido à
plantação de um olival na freguesia de
Salvada, concelho de Beja. O “caso”,
denunciado pelo Público, apanhou
quase toda a gente desprevenida. O
dono da exploração agrícola reiterou
que não sabia que no subsolo se en-
contravam vestígios arqueológicos e a
Câmara Municipal de Beja só se aper-
cebeu do sucedido depois de receber
o alerta de habitantes locais. Se fosse
hoje, possivelmente, o caso não teria
demorado tanto a ser descoberto. A
Direção Regional de Cultura do Alentejo
(DRCA) e a Direção Regional de Cultu-
ra do Algarve (DRCAlg) têm estado a
testar uma solução desenvolvida pela
Theia, que recorre a imagens e dados
de radar captados por satélite para
apurar situações em que o subsolo é
revolvido a ponto de destruir vestígios
arqueológicos. O “caso” de Salvada foi
dos primeiros usados como prova de


conceito da ferramenta a que a startup
de Coimbra deu o nome de Senseos.
«Conseguimos apurar que a destrui-
ção dos vestígios arqueológicos de Sal-
vada ocorreu por volta de 3 de março
(de 2017). Como a destruição foi feita ao
longo de semanas (através das operações
agrícolas), teria sido possível alertar as
autoridades quando se iniciaram os tra-
balhos e sempre teríamos conseguido
salvaguardar alguma coisa», explica
Ricardo Cabral, sócio-gerente da Theia.
A monitorização da Theia tem por base
dados captados pelos satélites Sentinel 1 e
Sentinel 2. No caso do Sentinel 1 são usa-
dos dados de radar especialmente úteis
para detetar e analisar intervenções na
vertical (a informação vinda do Espaço
permite detetar alterações milimétri-
cas no subsolo). O Sentinel 2 fornece
imagens de câmaras multiespectrais
que ajudam a perceber a extensão dos
estragos na horizontal, com resoluções
de 10 metros por pixel.
«Conseguimos atualizar dados de um
local de seis em seis dias», garante Stef-
fan Davies, responsável pela Área de In-
vestigação e Desenvolvimento da Theia.
A destruição dos vestígios arqueoló-
gicos de Salvada é ilustrada pelos algo-
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