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/ PORTUGAL FAZ BEM
ritmos da Theia através de uma escala
cromática: os locais em que a terra foi
sujeita a uma intervenção mais intensa
ou profunda são sinalizados a vermelho;
num segundo grau de gravidade surge
o laranja; e depois o amarelo e o verde,
para operações menos graves.
«O sistema permite o envio de alertas
semanais, tendo por base a comparação
da amplitude dos sinais captados pelo
radar dos satélites com os valores obti-
dos naquele local na semana anterior. A
informação é trabalhada para ser visível
numa imagem que ilustra, de forma rápi-
da, a gravidade das intervenções através
de uma escala de cores», descreve Ste-
ffan Davies.
Toda a informação processada pelos
algoritmos criados pela Theia foi sujeita a
confirmação por profissionais que classifi-
cam e fornecem dados sobre as interven-
ções que foram descobertas em cada local.
Desta forma, tornou-se possível despistar
falsos positivos e falsos negativos.
NÍVEIS DE INFORMAÇÃO
E se a destruição de um sítio arqueo-
lógico for tratada como uma violação
de um Plano Diretor Municipal (PDM)?
Os responsáveis da Theia admitem que
esse tipo de análise também possa ge-
rar um nível de informação adicional,
que pode ser útil na gestão de espaços
em que há restrições de construção ou
exploração agrícola.
A integração do cadastro territorial
também poderia revelar-se útil, mas
tem um desafio acrescido: «Com esse
cadastro, conseguíamos saber logo
quem é o dono e qual a exploração agrí-
cola em causa (que eventualmente pode
ter danificado um sítio arqueológico).
Só que não sabemos se esse cadastro
territorial terá toda a informação para
fazer esse tipo de análise», acrescenta
Ricardo Cabral.
E será que todos os visados estarão
dispostos a aceitar como válida a análise
levada a cabo pela Senseos? «Não posso
dizer se os dados apurados pela nossa
ferramenta podem ter valor legal, porque
essa é uma decisão que cabe a um juiz,
mas posso garantir que esta informação
é fidedigna... caso contrário não conse-
guíamos prestar este serviço», sublinha
Steffan Davies.
Os satélites Sentinel 1 e Sentinel 2 exe-
cutam órbitas polares em torno da Terra
- e esse é um fator que promete alargar
o raio de ação da Theia. Uma vez que os
satélites vão percorrendo diferentes ór-
bitas ao longo dos dias, torna-se possível
garantir a captação de dados de todo o
Globo. «Podemos prestar este serviço
para qualquer parte do mundo. Todas
as semanas temos informação atualizada
de qualquer ponto da Terra», lembra
Ricardo Cabral.
Este alcance à escala global já apontou
novas oportunidades de negócio: «Esta-
mos a trabalhar num projeto de investi-
gação para o Iraque. Com resoluções de
10 metros (por pixel), já é possível detetar
vários tipos de destruição de sítios ar-
queológicos. Num projeto que tivemos
com a Airbus, chegámos a trabalhar com
resoluções de 25 centímetros (por pixel),
mas são dados que têm custos muito mais
elevados», conclui Ricardo Cabral.
A construção da barragem do Alque-
va tem vindo a transformar a paisagem
alentejana, abrindo caminho à cultura
de regadio – e esse pode ser o fator que
levou à proliferação de casos que acabam
por destruir vestígios arqueológicos de-
vido a plantação de olivais e amendoais
intensivos. «Na maioria dos casos, as
explorações agrícolas não estão sujeitas a
licenciamentos ou ao controlo de impac-
to ambiental e por isso a probabilidade
de poderem vir a afetar o património
arqueológico é maior», explica Rafael
Alfenim, Técnico Superior da DRCA.
Rafael Alfenim recorda que as explora-
ções agrícolas de última geração recorrem
a máquinas mais potentes, que revolvem
as terras a maior profundidade. O que aca-
ba por inviabilizar o estudo arqueológico
- uma vez que os vestígios são revolvidos
e, mesmo quando não são destruídos,
ficam deslocados dos locais originais que
permitiriam situá-los algures no passado.
«Fazer arqueologia é como ler um livro
que é único, em que vamos arrancando
páginas ou queimando páginas. Se não
registarmos tudo (à medida que são feitas
as escavações) perdemos tudo. Revolver
essas terras é como meter um livro numa
trituradora, tornando-o totalmente ilegí-
vel», acrescenta o perito da DRCA.
A Senseos ainda está nos primeiros
tempos de teste, mas pode ajudar a dete-
tar destruição de património ou, melhor
ainda, evitar que a destruição assuma
maiores proporções: «Com a monito-
rização por satélite, passamos a ter um
controlo dos sítios arqueológicos mais
eficiente. É uma ferramenta que permite
saber que uma exploração agrícola está a
evoluir para um local e evitar que haja a
destruição de património arqueológico»,
sublinha Rafael Alfenim.
Da comparação entre a carta
arqueológica e os dados recolhidos por
satélite torna-se possível saber quais
os danos que uma exploração agrícola
causou num sítio arqueológico como o de
Salvada. A intensidade das intervenções
agrícolas é sinalizada numa escala
cromática (de verde, para ações de pouca
intensidade, a vermelho para a ações de
grande intensidade). Atualmente, a Theia
tem acordos celebrados com o Centro
de Estudos em Arqueologia, Artes e
Ciências do Património da Universidade
de Coimbra e com as Direções Regionais
de Cultura do Alentejo e do Algarve.
No caso do Algarve, esta ferramenta
é igualmente usada para
a monitorização da erosão costeira.