Exame Informática (Junho 2020)

(NONE2021) #1
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Faço parte da Exame Informática há apenas 11
meses, o que comparado com estes senhores aqui
ao lado quase parece uma brincadeira. Mas tivessem
alguns momentos sido diferentes e quem sabe se
já não levava alguns anos de Exame Informática
‘nas pernas’. Em 2012, ano em que terminava o
mestrado em jornalismo, tinha a hipótese de pedir,
literalmente, a publicação na qual gostaria de
estagiar, que o gabinete de saídas profissionais da
universidade tentava fazer a ponte. Pedi a Exame
Informática. Quando voltei lá para me inteirar da
situação, disseram-me que nunca tinham respondido.
Bandalhos, pensei eu. Acabei por ir estagiar para
a TVI e foi o início mais ‘sério’ do meu percurso
como jornalista. Dois anos depois, surgiu uma vaga
na equipa da Exame Informática e fui chamado
para uma entrevista. Aproveitei logo para relatar a
história do estágio que nunca aconteceu e, ao diretor
de então, Pedro Miguel Oliveira, não tinha chegado
o pedido de estágio, ficou perdido algures na
burocracia. Que bandalheira, pensei novamente, mas
como a entrevista até tinha corrido bem, fui todo
contente para casa. Mal eu sabia que não tinha sido
escolhido, mas sim... o Paulo Matos! Apesar da nega,
o Pedro Miguel Oliveira disse que mais cedo ou mais
tarde viria parar à Exame Informática. Continuei
a dar o meu melhor em todos os sítios pelos
quais passei, vestindo com orgulho cada uma das
camisolas dos desafios que vivi. Uma semana depois
de ter aceitado um novo trabalho, o Pedro voltou a
ligar. Desculpa, mas acabei de me comprometer com
outros e nunca voltaria atrás com a minha palavra,
disse-lhe no início de 2018. Felizmente nunca
troquei de número e no ano seguinte o telefone
voltou a tocar: desta vez era o Sérgio Magno quem
perguntava se tinha interesse em vir para a Exame
Informática. Agradeci e aceitei. Como é óbvio,
não é certo que, mesmo que tivesse estagiado
onde inicialmente pedi, por cá tivesse ficado. O
que para mim ficou claro é que há mais do que um
caminho para chegar onde queremos. Só é preciso
profissionalismo e um bocadinho de paciência.

Estreei-me nas visitas a São Francisco, EUA, na década
passada – e logo nessa oportunidade fiquei a poucos
metros do mítico Steve Jobs, durante o lançamento do
primeiro iPhone. Prezo esse carimbo no "passaporte" de
jornalista como prova de um momento histórico (quem o
negar ou não percebe de tecnologias ou sofre de clubite
aguda). Poucos anos antes, tinha conhecido a antítese de
Jobs que dá pelo nome de Steve Ballmer, pouco depois de
suceder a Bill Gates na Microsoft e elevar-se à segunda
posição no ranking dos mais ricos do mundo (Gates era o
primeiro...). Antes e depois dessas datas, tive a honra de
entrevistar fundadores da Internet/Web como Vint Cerf
ou Paul Mockapetris; Martin Cooper, que é considerado o
pai do telemóvel; John B. Goodenough, um dos mentores
das baterias de iões de lítio; e Gérard Mourou, que recebeu
o prémio Nobel da Física pelo trabalho feito com lasers,
e recordou como a exposição acidental de um laser num
dos olhos de um colega abriu caminho à descoberta de
um novo tratamento para a miopia. Todas estas histórias
trespassam tenacidade, ousadia e sucesso – mas poucas
ensinam aquilo que só se aprende com a desgraça. Se
o jornalista só o é na plenitude quando não renega nem
sucessos nem desgraças alheios, então tenho a dizer
que tentei cumprir a missão ao longo dos anos. Dou dois
exemplos, para depois terminar com um caso sintomático
da passagem do tempo: a) Em 2008, encontrei Maia
Nogueira, líder da antiga Solbi, num apartamento vazio,
acossado por arrestos de tudo o que antes tinha sido a
marca nacional que chegou a disputar a liderança da venda
de PCs em Portugal. Nessa altura, o empresário dizia ter
rendimentos reduzidos de 500 euros devido a penhora; b)
Em 2015, descobri que a YDreams estava afundada em
dívidas de 18 milhões de euros, e respondia às decisões de
um gestor judicial. Pouco depois, o grupo ruiu – e António
Câmara, o mentor do projeto, deu novo curso à carreira
empresarial; e c) ainda em 2015, fui ver o que restava da
RARET, uma base instalada em Glória do Ribatejo com o
propósito de transmitir programas de rádio para os países
do bloco comunista. E assim descobri como, na Guerra
Fria, parte daquela aldeia viveu numa “little America” com
qualidade de vida difícil de alcançar pela média nacional.
Na reportagem, tive um bónus: conheci Aleixo Fernandes,
responsável técnico da RARET, já nonagenário, mas com
lucidez e memórias prodigiosas para contar como fabricou
a primeira guitarra elétrica portuguesa. Sempre foi por
gosto que cumpri a minha missão.


RUI DA ROCHA FERREIRA


O QUE EU ANDEI


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HUGO SÉNECA


DE SÃO FRANCISCO


A GLÓRIA DO RIBATEJO

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