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A INTELIGÊNCIA
SUPREMA
CONSTRUIR
UM SOL NA TERRA
Todos os dias a nossa vida é influenciada
por algoritmos de Inteligência Artificial
(IA): nas músicas e séries que as apps de
streaming recomendam ou nas dezenas
de e-mails de spam que nunca chegamos
a receber. O grande potencial da IA está
por desbloquear e quando acontecer vai
afetar mais elementos do quotidiano – do
diagnóstico médico, ao reconhecimento
de emoções. Computadores mais
potentes, chips mais otimizados e mais
dados vão fazer a IA evoluir a grande
ritmo. Destaque para a aprendizagem
automática (auto machine learning) e a
aprendizagem por reforço (reinforcement
learning), com ambas a permitirem à
própria IA ganhar mais conhecimentos,
sozinha, através de treino. Outra área
fundamental será a da inteligência
artificial explicável (explainable AI, ou
XAI), que ‘obriga’ todos os mecanismos
de IA a dizerem por que razão tomaram
aquela opção ou recomendação. E à
medida que mais governos se envolvem
na criação de regras que ajudem a balizar
os desenvolvimentos e a aplicação da
IA, mais governos vão usá-la. Segundo
Francesca Rossi, líder de ética da
IBM, durante a pandemia da Covid-19
já houve forças governamentais “a
adotar modelos [de IA] para explorarem
como uma decisão pode impactar uma
tendência que eles veem nos dados”. Mas
o grande desafio que se coloca, e que
tem sido endereçado por empresas como
a Deep Mind, da Google, ou a OpenAI,
é a criação da chamada IA generalista.
Atualmente os algoritmos são bons
numa tarefa específica para a qual são
treinados, mas o grande salto será dado
quando for criada uma plataforma de IA
capaz de aprender diversas tarefas, de
diferentes áreas, com uma capacidade
sobrehumana. Estes mecanismos já
existem: o AlphaZero da Google tornou-se
mestre em xadrez, shogi e Go em apenas
24 horas. R.R.F.
Com os problemas ambientais que já
existem e com os que se avizinham, o
planeta precisa de uma fonte de energia
‘verde’, altamente escalável e disponível 24
horas por dia. A fusão nuclear é considerada
por muitos investigadores como o ‘Santo
Graal’ para este desafio energético. O
objetivo desta tecnologia é fundir átomos,
de forma controlada. Este ato liberta quatro
milhões de vezes mais energia do que as
reações químicas geradas pela queima do
carvão, petróleo ou gás, e quatro vezes mais
energia do que a fissão nuclear. Em linhas
gerais, um átomo de hidrogénio, um dos
elementos mais abundantes, é submetido a
temperaturas extremas que separa o núcleo
(carga positiva) do eletrão (carga negativa)
e forma-se uma espécie de gás conhecido
como plasma. É graças a este plasma que
é possível fundir núcleos de átomos que
criam grandes quantidades de energia
neste processo – é assim que ‘funciona’
o Sol. Um dos projetos mais avançados
chama-se ITER e está localizado no sul
de França, onde está a ser construído um
reator de fusão nuclear que deverá 'ligar' em
- O reator do ITER, conhecido como
tokamak (na imagem em baixo), usa um
sistema de eletromagnetismo para gerar
temperaturas próximas dos 150 milhões
de graus Celsius, que serão controladas
por anéis de refrigeração que estarão muito
próximos dos -260 graus celsius. O vapor
que sair desta máquina será usado para
gerar eletricidade. E apesar do grande nível
de energia necessário injetar neste reator
para gerar o plasma e a fusão dos átomos
(de deutério e trítio, isotopos do hidrogénio),
o que será produzido será dez vezes
superior. No Reino Unido, a startup Tokamak
Energies está a produzir reatores de fusão
nuclear, de menor escala, a pensar em
cidades e empresas, e já conseguiu atingir
temperaturas que permitem criar o plasma
necessários à fusão nuclear. R.R.F.
VISIONÁRIOS
FERNANDO
PEREIRA
A Google é das
empresas mais
avançadas em
Inteligência Artificial
e um dos líderes da
tecnológica nesta área
é Fernando Pereira.
Pode não aparecer
em palco nas grandes
apresentações,
mas a influência do
processamento de
linguagem natural, a
área que chefia, nos
produtos da tecnológica
é gigante. Do motor de
pesquisa ao Assistente
Google, Chrome e
Translate, a influência
de Fernando e da sua
equipa de mais de 600
pessoas está sempre
lá. O português é quem
está a fazer com que
as máquinas percebam
e falem melhor com
os humanos. "O que
falta à IA é conectar os
elementos da conversa
contínua com os
assistentes, reconhecer
informação que falta,
ser capaz de reagir a
essa falta de informação
e pedir informação
adicional, reconhecer
que algum aspeto
anterior da conversa
foi invalidado por uma
coisa que foi dita de
novo", explicou numa
entrevista recente à
Exame Informática. “O
progresso vai continuar,
acho que estamos num
momento em que a
velocidade de progresso
é maior do que há
10 ou 20 anos”.