(20200800-PT) Exame Informática 302

(NONE2021) #1
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“Uma má experiência [com estes
sistemas] tem um efeito de
contaminação. Queremos evitar
isso”, defende Luís Fialho, na
imagem junto à instalação solar

Os sistemas híbridos são essenciais
em determinados tipos de rega,
como num olival, no qual são feitas
entre 15 a 16 horas de rega diária

D


izem-nos que tivemos sorte. Em
condições normais, para uma
manhã do início de julho, a re-
portagem na Herdade de São Barnabé,
em Alter do Chão, seria mais difícil por
causa da forte exposição solar e das altas
temperaturas típicas do Alentejo – nos
dias de verão chega-se com facilidade aos
40º e naquele dia apanhámos menos de
30º. Mas o que pode ser menos agradá-
vel para trabalhar é exatamente aquilo
que o sistema de irrigação fotovoltaica
de alta potência, criado pela Cátedra de
Energias Renováveis da Universidade de
Évora (CER-UÉ), precisa para funcio-
nar. Passavam poucos minutos das 11
horas da manhã e já estava a produzir o
equivalente a 110 quilowatts (kW) de po-
tência. Usar energia solar para alimentar
um sistema de irrigação não sendo algo
novo, sempre esteve limitado a baixas
potências. O que foi desenvolvido na
UÉ, em conjunto com o Instituto Poli-
técnico de Madrid, Espanha, no projeto
MASLOWATEN, e que tem estado a ser
testado em ambiente real, resolve jus-
tamente este problema – permite fazer
irrigação de alta potência, recorrendo
apenas à energia gerada pelos painéis
fotovoltaicos ou combinado com outras

A Universidade de Évora desenvolveu um sistema que
permite fazer a irrigação de grandes áreas de cultivo com
zero emissões poluentes. Agora, com o projeto Solaqua,
chegou o momento de tornar a agricultura menos poluente

O SOL


FAZ A REGA


o caudal e a velocidade da água, evitando
que os tubos fiquem congestionados e a
água não circule, um problema frequente
nos sistemas mais fracos. Toda a gestão
entre potência disponível e rega que é
necessária é feita por algoritmos que au-
tomatizam e otimizam todo o processo.
Além disso, o sistema de rega pode ser
agendado e controlado através de uma
aplicação para smartphone, o que elimi-
na a necessidade de estar no local para
tratar de todo o processo. “O agricultor
faz tudo da mesma forma, não tem de ser
especialista em fotovoltaico”, salienta
Luís Fialho, investigador da CER-UÉ.
Antes da instalação desta infraestrutu-
ra, a Herdade de São Barnabé dependia
exclusivamente do diesel para bombear a
irrigação por todo o olival – a rede elétrica
mais próxima está a cerca de cinco quiló-
metros de distância e o investimento para
trazer eletricidade da rede para o olival
seria avultado. Desde que a mini-quinta
de painéis solares foi montada, que cerca
de 80% de toda a rega feita na proprie-
dade do grupo Sovena – responsável por

fontes de energia, o que significa menos
ou até nenhumas emissões poluentes.
Naquela que é a única instalação-piloto
do género em Portugal, 560 painéis fo-
tovoltaicos estão responsáveis por gerar
uma potência máxima de 140 kW, que é
suficiente para alimentar um sistema de
rega gota-a-gota por uma extensão de
200 hectares de olival, o equivalente a
cerca de 200 campos de futebol. Também
funcionaria com sistemas de aspersão
ou qualquer outra tipologia de rega. O
segredo está no controlador da bomba
de irrigação: tem potência suficiente para
controlar uma bomba de alta pressão,
permitindo ao mesmo tempo controlar
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