Exame Informática - Portugal - Edição 303 (2020-09)

(NONE2021) #1
63

/ PORTUGAL FAZ BEM

MODA AMIGA


DO AMBIENTE


A Tintex quer reduzir a pegada
ecológica dos tecidos que
produz e que estão a ser
usados no fabrico de máscaras
de proteção contra a Covid
Tex t o Sara Sá Fotos D.R.

N


ão são apenas os casacos de
pele que são inimigos da na-
tureza. Um look casual, feito
da vulgar t-shirt de algodão
e calças de ganga, pode ser um verda-
deiro atentado. Só o balanço ao consumo
de água chega aos 13 mil litros – cerca
de dez mil pelas calças, à volta de 2700
litros à conta da t-shirt. A fatura ener-
gética também não é nada famosa e as
estimativas apontam para uma negra
evolução do setor até 2050, ano em que
a indústria têxtil se tornará no segundo
maior emissor de dióxido de carbono.
Ricardo Silva, engenheiro químico, res-
ponsável de operações da Tintex, entrou
no negócio da família comprometido com
a sustentabilidade. Na empresa têxtil,
conhecida pelos tecidos que fabrica e
sobretudo pelas técnicas de tingimento, o
departamento de inovação emprega oito
pessoas, num total de 130 trabalhadores.
“As questões ambientais e sociais são es-
tratégicas para nós”, afirma Ricardo Silva.
No mercado internacional, a Tintex fez
nome graças às suas técnicas de acaba-
mento que tornam os tecidos macios e
confortáveis ao toque e sem encolher de-
pois das lavagens. Também a tecnologia
anti-borboto - que funciona pela adição
de uma enzima que degrada as fibras à
superfície, numa espécie de polimento


  • tornou os algodões aqui tecidos numa
    mais-valia muito reconhecida.
    Em todos estes processos a preocupa-
    ção com a sustentabilidade está presen-
    te, tornando-se na imagem de marca da


empresa. A grande mudança até agora
está na redução do consumo de água.
Depois de um investimento de 26 mi-
lhões de euros aplicado à investigação
e desenvolvimento, com mudança de
equipamentos e de processo, a empresa
de Vila Nova de Cerveira reduziu em
trinta por cento o seu consumo de água.
“Há cinco anos gastávamos um milhão
de litros por dia [para a produção de seis
toneladas de tecido], hoje gastamos 700
mil litros”, orgulha-se Ricardo Silva.
A água, captada em furos, é tratada
numa etar própria para depois poder
ser descarregada no rio. Pelo menos
metade da água é reutilizada no próprio
processo fabril.

REGRESSO AO PASSADO
Ao nível do tingimento, a Tintex está a
fazer uma espécie de viagem ao passado,
voltando-se para os extratos naturais
que vão substituir os corantes de síntese
química. Usam-se plantas como o casta-
nheiro ou o hortelã-pimenta e também
cogumelos. Para a função de amaciador,
os silicones estão a ser trocados também
por produtos naturais. “Queremos voltar
ao tingimento natural, do antigamente,
e abandonar os metais pesados”, resume
Ricardo Silva. “Mas sem que o tecido
fique com aquele aspeto manchado do
tingimento caseiro.”
Quando começaram a sair os requisi-
tos técnicos para o fabrico de máscaras
de proteção da Covid-19, a equipa da
Tintex submeteu alguns dos seus tecidos

ao teste do Centro Tecnológico Têxtil e
Vestuário, Citeve, instituto responsável
pela acreditação das máscaras sociais em
Portugal. “O desafio que assumimos foi
o de conseguir o mesmo nível de perfor-
mance com as máscaras de tecido que é
atingido com as de poliéster, mas usando
um material mais amigo do ambiente”,
admite o responsável. É que as máscaras
de material sintético, as ditas cirúrgicas,
são leves e oferecem um elevado grau de
proteção, mas tardam pelo menos 500
anos até se degradarem.

Extratos naturais para tingir e redução
do consumo de água são algumas das
medidas de sustentabilidade adotadas,
que exigiram um grande investimento

Conforto e respirabilidade são
as características das máscaras
produzidas com o tecido da Tintex

OS CINCO


PRINCÍPIOS PARA


UM GUARDA-ROUPA
SUSTENTÁVEL
No mundo, são compradas 80 mil
milhões de peças de roupa anualmente,
um valor que tende a aumentar e que
levará a que em 2050 um quarto das
emissões de carbono terá origem na
indústria têxtil. Para inverter esta
tendência, a plataforma Fashion for Good
aconselha que no momento da compra
de um novo ‘trapo’ se tenha em conta o
respeito pelos seguintes critérios:

BONS MATERIAIS
que possam ser reutilizados e reciclados
ECONOMIA CIRCULAR
que beneficie todos os envolvidos
ENERGIA
renovável e limpa
ÁGUA
redução no seu consumo
QUALIDADE DE VIDA
salários justos e respeito pelos
direitos dos trabalhadores
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