Exame Informática - Portugal - Edição 303 (2020-09)

(NONE2021) #1
9

ANTHONY


LEVANDOWSKI


Se há carros que já conduzem
sozinhos, mesmo em ambiente
urbano, uma parte desse
trabalho deve-se a este
norte-americano. Em 2009, foi
um dos fundadores da divisão
de carros autónomos da Google
e que daria origem à empresa
Waymo. Mas quando em 2016
saiu para fundar uma startup,
chamada Otto, e poucos meses
depois vendeu esse negócio
à Uber por 680 milhões de
dólares, Levandowski viu-se
metido numa embrulhada legal.
Resultado: foi condenado,
em agosto deste ano, pelo
roubo de segredos comerciais
e propriedade intelectual da
Waymo. O próprio já veio pedir
desculpa aos colegas que teve
na Google pela usurpação de
documentos que viriam a ser
usados na startup que fundou,
alguns dos quais acabaram
nas mãos da Uber (a Waymo
e a Uber chegaram a acordo
num julgamento em separado).
Apesar do reconhecimento
público da genialidade de
Levandowski, o guru dos carros
autónomos vai, em breve, ter de
cumprir 18 meses de pena de
prisão e ainda pagar uma multa
de quase 680 mil euros.

ELISABETH


HOLMES


Os olhos azuis grandes, as
camisolas pretas de gola alta
e a voz grave tornaram-se na
imagem de marca daquela que
entre 2010 e 2016 foi uma
das figuras mais cintilantes de
Silicon Valley. Foi comparada
inúmeras vezes a Steve Jobs,
cofundador da Apple e figura
por quem Elisabeth Holmes
tinha grande admiração. Foi
capa em prestigiadas revistas
de economia e tecnologia. A
empresa de equipamentos
de testes sanguíneos que
criou, chamada Theranos,
chegou a estar avaliada em
nove mil milhões de dólares.
Prometia, numa pequena
máquina e com apenas uma
gota de sangue recolhida do
dedo do utilizador, realizar
dezenas de testes clínicos.
As máquinas existiam e os
testes eram feitos, mas
muitas vezes com resultados
errados ou com recurso, na
realidade, a máquinas da
concorrência – tudo sem
que os muitos e poderosos
investidores da empresa
soubessem. Em 2015, o The
Wall Street Journal começou
a expor práticas duvidosas
da startup e esse foi o início
da derrocada de Elisabeth
Holmes. Agora aguarda
julgamento por crimes de
fraude financeira e eletrónica,
depois de já ter chegado a
um acordo com a entidade
reguladora do mercado
mobiliário, a Comissão de
Títulos e Câmbio dos Estados
Unidos (SEC em inglês) – foi
obrigada a devolver todas as
ações que tinha na empresa,
a pagar uma multa de 500
mil dólares e está afastada
de cargos de direção em
empresas públicas por um
período de 10 anos.

ADAM NEUMANN


A WeWork também já figurou na
lista das startups mais valiosas
do mundo – chegou a valer
47 mil milhões de dólares (!). O
negócio? A empresa comprava
ou alugava edifícios em cidades,
renovava fachadas e interiores
de acordo com o espírito de
escritórios ‘cool’ que Silicon
Valley tanto popularizou e
alugava ou subalugava depois a
outras empresas. Apesar de ter
aberto 425 escritórios em 36
países, a operação da WeWork
nunca deu lucro. O seu maior
cartão de visita era mesmo
o fundador Adam Neumann,
norte-americano conhecido
por ser um bom negociador
e por galvanizar os clientes
numa missão de construir um
mundo melhor com base numa
cultura empresarial moderna.
Em 2019, após a empresa
submeter documentos para
um processo que culminaria
com a entrada na bolsa de
valores através de uma Oferta
Pública Inicial, Neumann foi
afastado do cargo de CEO pelos
investidores, após descobrirem
que o negócio não era, e estava
longe de ser, lucrativo. Em
outubro a empresa foi salva por
um dos maiores investidores,
a Softbank – empresa que
Neumann está a processar.

ANDY RUBIN


Durante largos anos, Andy
Rubin gozou do estatuto de
‘semi-deus’ em Silicon Valley


  • afinal de contas, este é
    considerado o ‘pai’ do sistema
    operativo Android, o mais
    popular em todo o mundo. Em
    2014, o norte-americano saiu
    da Google, naquela que se
    julgou ser uma decisão para
    iniciar um novo projeto. Esse
    projeto nasceu mesmo – a
    startup Essential, responsável
    pela criação de smartphones
    topo de gama com o mesmo
    nome. Mesmo sem grande
    sucesso comercial, a Essential
    tinha grande cobertura
    mediática. Até que a bomba
    estourou. Andy Rubin não saiu
    simplesmente da Google – foi
    afastado, depois de ter sido
    acusado por uma funcionária
    de assédio sexual. Apesar
    das alegações graves contra
    o executivo, a Google ainda
    lhe deu uma compensação
    de 90 milhões de dólares,
    uma decisão que motivou
    fortes críticas. Mais tarde,
    em 2019, foi acusado de estar
    por trás de uma rede sexual –
    com Rubin a dizer que é mentira.
    Em fevereiro de 2020, a
    startup de alto perfil que criou,
    a Essential, declarou falência e
    encerrou operações.


TRAVIS KALANICK


Se estes empreendedores fossem definidos por um cognome, então o de Travis Kalanick seria ‘O Tenaz’



  • um ícone do mote “move fast, break things” (move-te rápido, parte coisas, em tradução livre), numa
    alusão à força que uma revolução tecnológica pode ter em contornar regras que parecem inabaláveis.
    O problema é quando essa ambição torna-se quase desmedida e não conhece limites. Resultado:
    uma cultura tóxica na Uber, de machismo e assédio sexual, que levou ao afastamento de dezenas de
    funcionários; rastreamento dos utilizadores mesmo depois de estes terem desinstalado a aplicação
    e que quase valeu à Uber a expulsão da App Store da Apple; criação de uma ferramenta para perceber
    quais utilizadores eram polícias e mostrar-lhes uma versão diferente da app; e esconder um
    mega-ataque informático que roubou dados de 57 milhões de utilizadores. A gota final foi um vídeo
    no qual Kalanick discute com um motorista da Uber. Pouco depois foi afastado da empresa.

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