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hoje já conheces 80% daquilo que vais fazer, é muito difícil
seres completamente surpreendido com aquilo que te chega.
Lembro-me de uma máquina de fazer frangos em que fiquei
uma semana com aquela divisão a cheirar a frango... (risos)
Mas se tens um hobby que gostes, põe no YouTube, porque,
muito ou pouco, há sempre gente que vai gostar daquilo que
fazes. E é incrível o feedback que vais recebendo. No início,
é muito mais positivo para a construção daquilo que estás a
fazer, porque as pessoas vão encontrar aquele vídeo, tiveram
interesse e partilham algo quase sempre positivo. Hoje, como o
intervalo de gente que tens a seguir-te é muito grande, recebes
o bom, o mau, o muito bom... E um mau dói sempre 20 vezes
mais do que um bom.
Continua a fazer tudo sozinho: gravação, edição, publicação?
Tudo sozinho. Já pensei nisso inúmeras vezes e muito mais
há um ou dois anos. A partir do momento em que fazes
vida disto em todos os aspetos – em termos monetários
também –, pensas em rentabilizar o teu tempo ao máximo
e a edição é algo que tira muito, muito tempo. Mas penso
que se colocar aqui uma pessoa a editar não vou conseguir
passar a mensagem que vai na minha cabeça. Por exemplo,
num vídeo em que vá para a rua, há situações em que já sei
como quero gravar e montar... E iria perder um bocado a
essência do canal. O canal chama-se Nuno Agonia, eu co-
mecei com isto tudo sozinho e em vez de fazer três vídeos
numa semana faço dois ou faço um só, mas é a minha cena.
Não quero tornar isto numa empresa, porque vai perder-se
muita coisa. Assim há muito maior ligação com tudo o que
se apresenta às pessoas. As pessoas sabem que não são
análises detalhadas – se quiserem análises detalhadas, vão
ver a Exame Informática –, reconheço isso e sou o primeiro
a defendê-lo, porque o meu objetivo não é esse. O meu
objetivo é mostrar aquilo que as pessoas querem ver de uma
forma completamente ‘chill’.
A
os 40 anos, Nuno Agonia é, de forma destacada, o
maior youtuber de tecnologia em Portugal, com
quase 1,5 milhões de subscritores. Recebeu-nos
na sala onde grava e edita os seus vídeos – um
espaço que é um autêntico santuário para geeks, tal o número
de computadores, smartphones, consolas, drones e câmaras
presentes (e chapéus, muitos chapéus).
O que diria o Nuno Agonia de 2020 ao Nuno Agonia de
2009 que decidiu criar um canal de YouTube de tecnologia
e ao Nuno Agonia de 2015 que decidiu fazer disso uma
profissão full-time?
O de 2020 iria dizer: “Nuno, tu não consegues imaginar que
vais ter 1,5 milhões de subscritores!” Nunca na vida, quando
comecei a pensar nisto de uma perspetiva financeira positiva
para mim, julguei que um canal de tecnologia em Portugal
chegasse a 1 milhão. O sonho era ter 100 mil subscritores,
tanto que essa foi a placa mais marcante para mim. Porque
quando inicias esse projeto olhas para youtubers inter-
nacionais – cá dentro só tinhas o Wuant e afins, não era
conteúdo que eu via – e pensava que era bem fixe receber
a placa dos 100 mil... Foi a placa que teve mesmo emoção,
porque quando chegas a 100 mil sabes perfeitamente que é
possível chegar a 1 milhão. Se a gente quantificar isso para
a vida real, imagine-se: 60 mil enchia o Estádio do Dragão
e, quando ia ver um jogo, olhava para aquela gente toda e
punha as coisas em perspetiva, porque senão os números
deixam de ter valor.
Que tipo de produtos mais gostava de testar no início desta
carreira e quais os que lhe chamam mais a atenção agora?
Quando comecei havia a questão da novidade e, como o objetivo
era partilhar experiências com outras pessoas, eram gadgets
diferentes – tipo máquina de pipocas, máquina de fazer Coca-
-Cola, máquina de fazer sanduíches... eram coisas que queria
experimentar e partilhar. Se estiveres a fazer um smartphone
A MÁQUINA DE
VISUALIZAÇÕES
O maior youtuber de tecnologia em Portugal fala sobre
os patrocínios, as críticas, os gadgets e como a autenticidade
é um dos segredos para a longevidade
Tex t o Paulo Matos Fotos Diana Tinoco
NUNO AGONIA