54Youtuber de 40 anos, é natural da Póvoa de Varzim e
tem um canal dedicado a tecnologia com 1,43 milhões
de subscritores, que foi originalmente criado em- No início da sua vida profissional era técnico
de informática na área de gestão hospitalar. Uma
tuberculose ganglionar, aos 35 anos, obrigou-o a ficar
em casa mais de ano e meio, altura em que decidiu
apostar em full-time nos vídeos para o YouTube.
Os youtubers parecem ter um crescimento exponencial,
mas depois esfuma-se tudo em relativamente pouco tempo.
Essa vertente de ‘one man show’ é um dos segredos para
alcançar maior longevidade?
Não vou dizer nomes de ninguém, mas, se estivermos atentos,
vemos isso a acontecer em todos. Quando começam a ter retor-
no financeiro, já pensam em fazer mais conteúdo, mas depois
perdem-se. Neste caso, o Nuno Agonia é o centro disto tudo,
é o que mexe em tudo e é assim que tem de ser para a coisa
funcionar como sempre foi. Houve um ano em que tive um cres-
cimento maluco e cresceu porque era o Nuno a trazer produtos
que ninguém tinha visto. Há patrocínios hoje, mas não é tudo.
Há muita coisa que recuso porque não são coisas que uso. Nos
patrocínios que faço dou a cara, mas também estou à espera que
“paguem” por isso. Há muita coisa que recuso e não é por não
me pagarem. Posso fazer isso porque a coisa me corre bem, mas
iria perder muita integridade se não fosse assim. Se pensas só
no dinheiro, as pessoas vão perceber, o público não é estúpido.
Feitas as contas, o seu vídeo com 5 milhões de visualizações
rendeu €2500 por parte do YouTube. Que percentagem
do seu rendimento é que vem daí comparando com os pa-
trocínios?
Hoje, os contratos têm um peso muito maior. Também porque
tento trabalhar de forma a que aquilo que partilho seja genuíno,
embora saiba que nem toda gente pense isso. Quero que as
pessoas tenham noção de que este tipo está a ser pago, mas que
selecionei fazê-lo porque acredito nisso. Às vezes, são valores
que me surpreendem pela marca, nem sou eu ou a agência que
puxo por eles, assinam de cruz. É fixe sentires que alguém apos-
tou em ti e quer continuar. A nível de rendimento, o YouTube
em Portugal paga muito mal. Para ganhares algum dinheiro
tens de ter visualizações a sério. Eu tenho essas visualizações,
mas não vais ficar rico só com o YouTube. Não quer dizer que
vá ficar rico de qualquer outra forma, mas com os contratos
consegues muito mais, negociar muito melhor e tens mão
na coisa. Com o YouTube, és empregado do YouTube. Posso
mostrar CPMs [Cost per Mille] e no Canadá seria um senhor...
(risos) Nunca iria conseguir, porque o conteúdo teria de ser
em inglês, mas o Canadá é dos melhores sítios a pagar, chega
a ser 11 vezes mais. Por exemplo, o Marques Brownlee, o Linus
e outros estão riquíssimos e só de YouTube, imagino o resto...
Como lida com as críticas de que se aprende pouco ou nada
com os youtubers?
Entendo, porque há muito conteúdo no YouTube que é negativo
e levamos todos por tabela. Não condeno o pensamento das
pessoas, porque, se estivesse do outro lado e não entendesse a
plataforma, teria exatamente a mesma opinião. Entendo que
considerem que “é uma cambada de gente que não faz nada e
ganha muito dinheiro”, porque há muitos que não respeitam
o público que está do outro lado e há vídeos onde se vê que
é mesmo só para enganar. Não vou dar nenhum exemplo,
porque me fica mal. Mas há vídeos que não quero que o meu
filho veja. É quase como a política, toda a gente diz mal, mas
há lá gente boa a trabalhar.
Ainda há alguma espécie de fórmula mágica para ter sucesso
nas visualizações: horário da publicação, título do vídeo,
thumbnail escolhido, etc.?
Há vídeos que estou a publicar e peço muitas vezes a opinião à
minha mulher, que é a minha confidente. E há vídeos que, seja
a que hora for, sabes que vão funcionar. Se for um vídeo mais
normal, podes ter um bom arranque das 17h às 21h, mas não
é isso que vai fazer com que o YouTube sugira o teu vídeo. O
YouTube sabe perfeitamente qual é a percentagem de tempo que
a pessoa está a ver o vídeo e, como o YouTube não é nenhuma
pessoa, recebe a informação de olhos fechados – algo como:
este tipo colocou um vídeo e 90% das pessoas estão a ver 90%
do vídeo, portanto vamos recomendá-lo. Por outro lado, outro
tipo tem 1 milhão de subscritores e lançou um vídeo, mas as
pessoas entram e saem – esquece, não vamos recomendar.
O vídeo chega longe se o YouTube começa a recomendá-lo,
porque não são só as subscrições.
Nota que, nestes últimos cinco anos, o tipo de críticas mudou
em relação ao que lhe faziam inicialmente?
Muitas mudaram no sentido de “não posso ver este gajo” para
perceberem “ele já está cá há algum tempo e o que faz não é
totalmente mentira”. Também há o reverso da moeda, com
pessoas a acharem que só faço determinadas marcas, mas o
pessoal, por vezes, não tem noção que os produtos ‘random’ que
querem ver não aparecem facilmente. Mas há de tudo. Se faço
só um produto desses dizem que estou a ficar sem conteúdo. O
que me interessa é colocar um vídeo e ver na ferramenta que
temos a percentagem de ‘gosto’ e ‘não gosto’. E o meu está
sempre na casa dos 99% de ‘gostos’.
Isso consegue dar uma perceção clara de quais os produtos
que geram mais ‘não gosto’...
Exatamente. Se vens falar mal da Apple, são os vídeos onde tens
mais ‘hate’. E o OnePlus é uma família, se falares mal de um One-
Plus és dizimado em todo o lado... (risos) Mas não se liga, senão
fica-se doente. Aprendi que, em não sei quantos comentários,
nem toda a gente vai dizer bem de ti, é perfeitamente normal.
Atualmente, quantos milhões de visualizações tem num
mês mau?
O mínimo é 4 milhões num mês.
Qual foi o gadget que gostaria de ter testado, mas que, por
alguma razão, não foi possível?
Uma das coisas que nunca consegui fazer foram os óculos da
Google. Há uns anos diria que gostaria de ter contacto com a
Apple, mas hoje já consigo. Este ano iria acontecer algo com que
sonhava: ir às instalações deles para a apresentação [do novo
iPhone]. Vamos ver se para o ano, sem Covid, isso acontece.NUNO AGONIA