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m semanas, o portão do ar-
mazém da Abóboda, concelho
de Cascais, tornou-se peque-
no demais para o que lá tem
dentro e a única forma de deixar sair
o contentor de oito metros de altura é
trocar a porta à casa. “Estamos numa
fase muito complicada, de grande pro-
dução”, admite Paulo Gonçalo, CEO da
empresa de produção de hidrogénio,
Ultimate Power. É claro que não se trata
de um lamento. Também não será razão
de queixa a necessidade de anexação
do armazém ao lado ou a contratação
de cinco trabalhadores, só no último
mês de agosto e em plena pandemia.
O ambiente dentro do armazém é tudo
menos glamoroso. Ferros de soldar, pla-
taformas elevatórias. Mas o que aqui se
produz é tecnologia de ponta na produ-
ção de energia e o destino do material é o
mundo. Na lista de clientes estão a Nova
Zelândia, a América, o Brasil, numa car-
teira de clientes que envolve 65 diferentes
nacionalidades.
Tudo começou com uma caixa de 600
gramas, para aplicar nos automóveis, a
Ultimate Cell. Este pequeno equipamen-
to pode ser introduzido na entrada de ar
do motor e permite atingir poupanças
de combustível de 18 a 38 por cento,
em carros a gasolina, gasóleo, etanol e
GPL. Quando o motor se liga inicia-se
o processo de eletrólise – que resulta
na separação das moléculas de hidro-
génio contidas num fluido eletrolítico,
pela passagem de corrente elétrica. Este
hidrogénio, dentro do motor, funciona
como uma espécie de catalisador, trans-
formando a combustão num processo
mais completo e rápido. Este aumento
de eficiência tem dois resultados: di-
minui o consumo de combustível, de
onde decorre a redução das emissões
e limita a emissão de partículas, o quePaulo Gonçalo e Diogo Quintão
mergulharam no negócio do
hidrogénio em 2012. Desde
então tem sido sempre a crescerA otimização da combustão, pela injeção
de hidrogénio, pode ser aplicada quer
em pequena escala, nos automóveis,
quer em grandes consumos,
como em navios e cimenteirasse torna muito relevante em viaturas
com matrícula anterior ao ano 2000, já
que o equipamento está devidamente
aprovado pelo Instituto da Mobilidade
e dos Transportes de Portugal.99,999% DE PUREZA
Se funciona em pequena escala, porque
não usar o mesmo princípio para grandes
instalações? E foi aí que a coisa compli-
cou. E bem. O mesmo dispositivo existe
para camiões, barcos, geradores, sempre
com a lógica de diminuir o consumo
dos motores de combustão através do
aumento de eficiência conseguida com
a ajuda do hidrogénio. Depois dos veícu-
los, novo salto. Desta vez para sistemas
de queima contínua, como é o caso das
cimenteiras. E a partir daí, o primeiro
cliente da Ultimate Power, o grupo Se-
cil, passou a sócio, com a ambição da
exportação para as maiores cimenteiras a
nível mundial. “Temos clientes no Brasil,
Tunísia, Egito, Espanha, Alemanha”,
exemplifica Paulo Gonçalo. Até aqui, a
exigência em termos de qualidade do
hidrogénio não é muita. Já a passagem ao
nível seguinte, quando o hidrogénio é o
próprio combustível, levou a empresa ao
rigor quase atómico. Um grau de pureza
conhecido como os cinco ‘noves’, ou
seja: 99,999 por cento assegurado nos
equipamentos vendidos a uma empresa
americana de empilhadoras, movidas a
hidrogénio. Também surgem questões
relacionadas com o armazenamento,
que tem de garantir a segurança ao longo
de todo o percurso, com o reservatório
pressurizado a 700 bar, para diminuição
do volume. “O que faz sentido são insta-O PLANO
PORTUGUÊS
Publicado em Diário
da República a 14 de agosto,
o caminho rumo à ‘hidrogenação’
tem as seguintes metas:ATÉ 2030
10 A 15
%
de injeção de hidrogénio verde
nas redes de gás natural2 A 5
%
de hidrogénio verde no consumo
de energia do setor da indústria1 A 5
%
de hidrogénio verde no consumo
de energia do transporte rodoviário3 A 5
%
de hidrogénio verde no consumo de
energia do transporte marítimo doméstico1,5 A 2
%
de hidrogénio verde
no consumo final de energia2 A 2,5
GW
de capacidade instalada
em eletrolisadores50 A 100
postos de abastecimento
de hidrogénio que serão criados