/ PORTUGAL FAZ BEM
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lações de produção localizadas, junto ao
abastecimento”, defende Paulo Gonçal-
ves. “Por exemplo, ter um parque solar
associado a uma unidade de produção
de hidrogénio”, concretiza. Deste modo,
a energia utilizada no processo vem de
fontes renováveis, o que reduz o impacto
ambiental.
Apesar de haver ainda alguma descon-
fiança relativamente à solução “hidro-
génio”, o CEO não tem dúvida de que o
caminho rumo à neutralidade carbóni-
ca – emissões de gases com efeito de
estufa zero em 2050 – tem de incluir o
hidrogénio. Para o justificar, apresenta
dois dados: por cada tonelada de carvão
queimado, geram-se 2,6 toneladas de
dióxido de carbono (CO2); cada tonela-
da de CO2 emitida custa 25 euros, com
tendência para aumentar.
Atingir a neutralidade carbónica, con-
forme previsto, obriga o país a reduzir
entre 85 % e 90 % das suas emissões, até
2050, face a 2005. Com etapas de 45 % a
55 % até 2030 e de 65 % a 75 % até 2040.
“Não faz sentido esperar”, insiste Paulo
Gonçalo, respondendo, implicitamente
aos detratores do hidrogénio que argu-
mentam que a tecnologia não está madura
o suficiente para a aposta nacional pre-
conizada no plano do Governo aprovado
no final de julho. “O reconhecimento da
importância do hidrogénio verde [pro-
duzido a partir de fontes de energia re-
novável] reside no facto de, entre outros,
ser um portador de energia com elevada
densidade energética, o que lhe permite
ser uma solução para uma série processos
industriais intensivos, para o armazena-
mento de energia produzida através de
fontes renováveis e para o surgimento de
outros combustíveis de base renovável,
como é o caso dos combustíveis sintéticos
para o setor dos transportes marítimos
e aviação”, lê-se no documento oficial
da estratégia para o hidrogénio. “Como
tal, o hidrogénio verde apresenta -se
como uma válida opção para potenciar
o cumprimento dos objetivos nacionais
de incorporação de fontes renováveis no
consumo final de energia e para a des-
carbonização, com particular ênfase na
indústria e na mobilidade.”
LUGAR PARA TODOS NA ESTRADA
A multinacional de engenharia e tecno-
logia Bosch já vai avançada nesta corri-
da. Num projeto de colaboração com a
start up Nikola desenvolveu o primeiro
camião do mundo com capacidade para
40 toneladas, movido a células de com-
bustível. O que é apenas o sinal mais
visível da estratégia da empresa alemã.
“A Bosch está a abordar a tecnologia do
motor do futuro com uma mente aberta.
É da diversidade de soluções que surgirá
uma forma de transporte rodoviário
verde”, avança à Exame Informática a
gestora de produto de células de com-
bustível Tiffany Schmall. A expectativa,
admite a engenheira, é de que até 2030,
10% de todos os veículos elétricos no-
vos, com menos de seis toneladas, sejam
movidos a sistemas de células de com-
bustível. “O nosso objetivo é atingir uma
mobilidade sem impacto ambiental.
E para isso é necessário que empresas
como a Bosch industrializem novas so-
luções, como são os veículos elétricos
a células de combustível”, sublinha.
“Não existe competição entre células
de combustível e baterias. Na verdade,
complementam-se.” E nem sequer a
escassez de postos de abastecimento de
hidrogénio configura um entrave, ad-
mite a especialista. Nos próximos anos,
haverá uma extensão da rede (que neste
momento está reduzida a 180 postos de
abastecimento em toda a Europa, sendo
AS VÁRIAS FACES
DO HIDROGÉNIO
SUPLEMENTO
Injetado diretamente
nas redes de gás natural,
até uma proporção de
23% do total de gás
distribuído (conhecido
como power-to-gas)
COMBUSTÍVEL
Produzido localmente
ou transportado para
alimentação veículos
movidos a hidrogénio
(power-to-mobility)
SUBSTITUTO
DO GÁS
No setor industrial,
pode ocupar o lugar
do gás natural
(power-to-industry)
SINTÉTICO
Como forma
de descarbonizar
a produção
de combustíveis
sintéticos
(powe-to-synfuel)
ARMAZENAMENTO
A energia renovável
em excesso pode
ser convertida
em hidrogénio que
será posteriormente
reconvertido em
eletricidade através
de células de
combustível
ou em turbinas
de centrais a gás,
quando necessário
(power-to-power)
a Alemanha um dos países mais bem
servidos, com uma capacidade instalada
de 100 postos até ao final do ano). “A
rede de abastecimento de hidrogénio
tem de ser estendida, mas não há qual-
quer necessidade de ser tão vasta como
é atualmente a da gasolina/gasóleo.”
Do portfolio da Ultimate Power fazem
parte três patentes mundiais. Uma delas
relacionada com o contentor azul, de-
masiado grande para passar pela porta,
que se baseia na tecnologia PEM (da sigla
em inglês para membrana de troca de
protões). Em lugar da simples eletrólise
alcalina, usada nos pequenos disposi-
tivos de aplicação aos carros, e que se
baseia na passagem de corrente elétrica
por um fluido, para libertação do hi-
drogénio, no caso da PEM recorre-se
a uma membrana que funciona como
um filtro que separa o H2 presente na
água. Com este sistema mais moderno,
conseguem-se eficiências de produção
do gás da ordem dos 85 por cento. Como
o seu destino é o mercado americano,
um dos requisitos foi o sistema aguentar
ventos de 278 km/h. Não havia o ‘bicho’
de ser grande!
PRODUÇÃO ARMAZENAMENTO,
DISTRIBUIÇÃO E
ABASTECIMENTO
USO FINAL
PRODUÇÃO DE
ELETRICIDADE
RENOVÁVEL CENTRALIZADA PRODUÇÃO
DE HIDROGÉNIO
DESCARBONIZAÇÃO
TRANSPORTES
DESCARBONIZAÇÃO INDÚSTRIA
DESCARBONIZAÇÃO
ELETRICIDADE
E CALOR
COMBUSTÍVEIS
PRODUÇÃO SINTÉTICOS E OUTROS USOS
DESCENTRALIZADA
DE HIDROGÉNIO
EXCESSOS
PROVENIENTES
DA REDE
GASEIFICAÇÃO
DE BIOMASSA