(20201000-PT) Exame Informática 304

(NONE2021) #1
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Q


uando se pergunta qual o futuro das redes de
carregamento de acesso público para veículos
elétricos, a resposta é simples. Crescer, acom-
panhando a tendência esperada, a nível mun-
dial, para o mercado da mobilidade elétrica.
Este crescimento irá ocorrer de diversas formas sobre
o sinal mais: mais postos de carregamento, mais disper-
são geográfica, postos mais potentes e com redes mais
integradas e agentes de mercado mais bem preparados,
de forma a responderem cada vez melhor a um mercado
em evolução e mais exigente, sendo o seu conjunto um
estímulo ao desenvolvimento de mais inovação.
No entanto, o crescimento acelerado irá fazer-se sentir
de diversas formas: pela insuficiência momentânea do
número de postos de carregamento disponíveis que um
mercado que se quer altamente competitivo se encarregará
rapidamente de corrigir; pela necessidade da introdução
de sistemas de otimização da gestão da potência disponível
que permita garantir uma utilização mais eficiente das
infraestruturas de redes de energia existentes em cada
momento; e pela tendência para os agentes de mercado
desenvolverem estratégias comerciais mais agressivas
procurando fidelizar a sua base de clientes, tornando
mais difícil a seleção do produto/serviço mais adequado.
A mobilidade elétrica nasceu na era da digitalização.
Não só os veículos elétricos são um bom exemplo, também
o funcionamento das redes de carregamento de acesso
público estão a assentar em plataformas digitais que
conferem uma maior flexibilidade e rapidez de resposta ao
dinamismo empreendido por um mercado em construção.
A vantagem é que ao contrário de outros mercados
mais tradicionais, não haverá necessidade de suportar os
custos com a transição digital. A mobilidade elétrica será,
porventura, uma das primeiras grandes indústrias a nível
mundial totalmente idealizada e desenvolvida já em plena
era digital, o que se traduz num fator de competitividade
relevante e potenciador de inovação.
Acresce também que o florescimento da mobilidade
elétrica surge num clima social de desejo de renovação
e de uma nova consciencialização ambiental em torno
da transição para uma sociedade menos poluente, mais
descarbonizada e mais saudável.
Esta propensão à mudança serviu de catalisador para uma
abordagem diferente com o surgimento de novos conceitos
como a economia circular, as cidades digitais ou a mobili-
dade vista como um serviço (MaaS - Mobility as a Service).

É neste meio dinâmico, digital e inovador que as redes
de carregamento de acesso público se têm desenvolvido
e constituído como um novo serviço que crescentemente
vai influenciando a vida de todos nós.
E Portugal não foge à regra, o investimento público
financiou a criação de uma rede piloto base e espera-se
agora que a consolidação da infraestrutura de carregamen-
to de acesso público se faça com investimento privado,
funcionando como um importante complemento da rede
de carregamento de acesso privado.
Contudo, a entrada na fase plena de mercado ocorrida
em 1 de julho passado, essencial para conferir a confiança
do investimento privado, não significou o fim do inves-
timento público na rede Mobi.E. Com o Programa de
Estabilização Económica e Social recentemente aprovado,
o Estado decidiu canalizar, através do Fundo Ambiental,
3 Milhões de Euros para a MOBI.E, S.A. realizar um novo
projeto piloto na rede nacional de carregamento de acesso
público, de Norte a Sul e que será complementado com o
desenvolvimento de uma nova Plataforma de Gestão dos
fluxos de informação que irá certamente contribuir para
uma maior robustez do Sistema Mobi.E.
A instalação de uma rede base de 12 postos de carrega-
mento ultrarrápido (150 kw), complementares à criação de
10 parques (hubs) de carregamento com diferentes potên-
cias (1 ultrarrápido (150 kw), 3 rápidos (50 kw) e 5 normais
(22 kw)) irão permitir alargar a rede MOBI.E com mais 102
novos postos, conferindo mais rapidez de carregamento
aos utilizadores, às quais se somam ainda um conjunto
significativo de projetos em curso de iniciativa privada.
Em conclusão, a mobilidade elétrica está a ganhar
terreno em Portugal seguindo a tendência internacional,
sendo já uma aposta clara nas próximas décadas. Quer seja
através de investimento privado em tecnologia de ponta
para o desenvolvimento de veículos elétricos e tudo o que
lhe está associado, quer seja através das políticas públi-
cas de digitalização promovidas pelas cidades, quer seja
através dos incentivos públicos cada vez mais cirúrgicos
concedidos pelo Estado, o certo é que as soluções colo-
cadas ao dispor da população em termos de mobilidade


  • coletiva, individual, partilhada ou suave – assentarão
    cada vez mais na propulsão elétrica. Enquanto este mer-
    cado não atingir a maturação, os agentes que se dedicam a
    conceber, gerir e operar redes de carregamento de acesso
    público irão estar atentos e saberão criar as soluções mais
    adequadas às necessidades de cada momento.


O FUTURO DAS REDES DE CARREGAMENTO


DE ACESSO PÚBLICO


LUIS BARROSO
CEO DA MOBI.E
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